28 de jan. de 2012

A HISTÓRIA... RENEGADA!

   "Quando Vargas criou a legislação trabalhista, ficaram à margem dela os jangadeiros. Esse fato e as miseráveis condições de existência levariam quatro humildes pescadores em 1941 a realizarem uma extraordinária aventura: partiram da praia de Iracema a bordo de uma jangada em direção ao Rio de Janeiro, com o objetivo de conduzir reivindicações da categoria a Getúlio. Foram 61 dias de percurso, quase 2500 quilômetros percorridos sem bússola ou carta de navegação, dando notoriedade nacional e até no exterior aos destemidos Manuel 'Jacaré' Olímpio Meira (o líder), Jerônimo André de Souza, Raimundo 'Tatá' Correia Lima e Manuel 'Preto' Pereira da Silva. Acabaram recebidos festivamente na capital do Brasil e se encontraram pessoalmente com o ditador Vargas – conta-se que pouco depois o presidente determinou que jangadeiros passassem a receber benefícios do Instituto de Aposentadoria dos Marítimos.
   O Estado Novo, com sua máquina de propaganda, tratou de esvaziar o conteúdo crítico da viagem e canalizou para a ditadura a simpatia popular com o episódio; era o 'heroísmo do homem brasileiro', a força do 'trabalhador dedicado'.
   Poucos meses depois, a história dos quatro jangadeiros cearenses seria dramatizada pelo genial diretor de cinema norte-americano Orson Welles (autor do clássico filme Cidadão Kane), que incluiu a aventura em seu longa-metragem It’s All True (É Tudo Verdade). O filme fazia parte da política estadunidense de 'boa vizinhança' para com os países da América-Latina, o que incluía um investimento maciço em propaganda.
   Welles filmou no Ceará em 1942 e levou os jangadeiros para novas cenas no Rio de Janeiro. Mas ali aconteceu uma tragédia: Jacaré caiu de uma jangada atingida por uma forte onda e morreu. Seu cadáver nunca foi encontrado. O fato abalou profundamente o cineasta, que passou depois a enfrentar problemas com os produtores de Hollywood e autoridades brasileiras, inconformadas em ver Welles desviar suas câmaras das 'belezas tropicais' para mostrar os pobres, as favelas, a cultura negra. Esquecido, o filme ficaria inconcluso, sendo casualmente encontrado apenas em 1982 no depósito de um estúdio nos EUA."
 
  (AIRTON DE FARIAS)

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Nem o belo logradouro escapa. Triste fim de uma gestão lastimável!