"Mãe, posso dormir na casa da vó hoje? Escutei (isso) dentro do ônibus, hoje de manhã. Quando consegui me virar, pra ver a criança que me fez voltar ao passado apenas com uma frase, ela já não estava mais ao meu alcance. (Aí) viajei longe. Quando foi que o tempo passou e nos fez adultos, cheio de prioridades chatas? Lutamos todos os dias por alguma coisa que não sabemos se é o que realmente queremos, quando na verdade, casa de vó é o que todo mundo precisaria para ser feliz. Casa de vó é onde os ponteiros do relógio tiram férias junto com a gente e passam os minutos sem pressa de chegada. Casa de vó é onde uma simples macarronada e um pão caseiro ganham sabores diferentes, deliciosos; casa de vó é onde uma inocente tarde pode durar uma eternidade de brincadeiras e fantasias. Casa de vó é onde os armários escondem roupas antigas e ferramentas misteriosas; casa de vó é onde as caixas fechadas se tornam baús de tesouros secretos, prontos para serem desvendados; casa de vó é onde os brinquedos raramente surgem prontos, são inventados na hora. Casa de vó, tudo é misteriosamente possível de acontecer; mágico e sem preocupações. Casa de vó é onde a gente encontra os restos da infância dos nossos pais e o início de nossas vidas. Casa de vó, só mesmo lá dentro, no endereço do nosso afeto mais profundo, (onde) tudo é permitido; esse luxo não me pertence mais - infelizmente - viverá comigo apenas em recordações. Mesmo assim, se eu pudesse fazer um pedido agora qualquer pedido de todos os pedidos do mundo, eu iria pedir a mesma coisa: Posso dormir na casa da vó, hoje?"
Saulo Subira
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