Para cada um de nós, ao analisarmos a crise política que se formou em torno deste episódio envolvendo o Ministro Antonio Palocci, importam, e muito, os aspectos éticos que possam merecer qualquer tipo de condenação moral de nossa parte.
Mas, para a dinâmica do processo político isso é absolutamente secundário. Cada fato, detalhe ou suspeita serve essencialmente como combustível para que uma máquina de interesses entre em movimento, avance e alcance o máximo de seus objetivos. E isso é fácil de provar, como a um teorema.
A maneira do Ministro, então deputado, reunir recursos prestando consultoria, através de uma empresa, registrada em seu nome é, pra quem não for cínico, o primeiro dado “anormal” a ser considerado. Antiético? Desaconselhável? Inadmissível? Concordemos, hipoteticamente (hipoteticamente, insisto nisso, atenção) e apenas para raciocinar, que seja assim. Convenhamos, se admitirmos que eram serviços escusos, esbarramos na seguinte incongruência: porque ele os faria assumidamente, com seu nome, sua empresa, suas notas fiscais, sua declaração de renda?
Repito, estou fazendo apenas um exercício hipotético e lógico. O primeiro ato de quem age criminosamente é encobrir suas ações. E quem tem um mínimo de informações com os desvãos da política sabe que os meios para isso são muitos e nada originais.
Por mais que eu ou você, leitor, possamos supor que há um problema ético na atuação de Palocci, , esta crise tem outra razão.
Palocci era o anteparo – a esta altura soaria irônico dizer que seria a “interface” – entre Dilma e a base aliada. Ou, se você preferir que eu seja mais direto, com o PMDB. E o PMDB se tornou “o dono da crise” Palocci, por mais que eventualmente o “fato gerador” possa ter vindo do serrismo-kassabismo. Aliás, o “apoio” de Serra a Palocci tem a aparência de uma nota de três reais.
De uma só tacada, esta crise busca abalar a autoridade da presidenta, detonar o “peso-pesado” que intermediava seus pleitos e, num passe de mágica, fazer o PMDB assumir uma espécie de “voto de minerva” em qualquer questão que dependa de maioria no Congresso. Não é um problema pequeno, ou com alguém pequeno politicamente. Não é um ministro como outro qualquer, que se pode trocar com um peteleco ou chamar e dizer: “olha, companheiro, sei que isso é uma injustiça com você, mas sei que você coloca nossos objetivos em primeiro lugar e vai me ajudar a esvaziar essa onda…”
Até porque Palocci tem um tamanho político que tornaria quase impossível que qualquer outra pessoa o substituisse em suas funções sem ser “tratorado” pelos apetites e exigências de parte da base governista… de outro lado, substitui-lo por alguém com estatura política semelhante seria, dependendo do comportamento pessoal desta pessoa, talvez o embrião de novas crises futuras.
Sinto-me à vontade para falar, porque não tenho e nem procuro ter “espaços” na administração federal. Meu próprio mandato, como suplente que sou, inclusive, dura tanto quanto durarem as condições políticas que me reconduziram a ele.
Não tenho razão alguma, de qualquer ordem , para assumir a defesa pessoal de Antonio Palocci, exceto para quando praticar o senso de justiça que vem de meus princípios. Mas tenho todas as razões do mundo para assumir a defesa deste Governo, que é portador de tantas esperanças de nosso povo. Ainda que pudesse ser mais fácil engrossar um coro de acusações superficiais, ainda que seja mais fácil entrar na “onda” que dá espaços na mídia e permite negociar politicamente com o Governo, minha posição é uma só: o alvo desta operação é Dilma e, com ela, Lula.
Em nome de supostas questões éticas, o que se visa é o supremo pecado ético: levar este Governo a tornar-se refém de pressões e apetites que nada têm a ver com os destinos que ele veio abrir para o povo brasileiro e para nosso país. E, para defendê-los, não há conveniência pessoal ou política que sobrepuje o dever.
Brizola Neto, em artigo encaminhado a esse Blogue por Eliton Meneses
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