sábado, 11 de junho de 2011

NAU SEM RUMO


  "Nos tempos de colégio, nós estudamos a história da escravidão. Muito me impressionava essa passagem. Os negros eram arrancados de suas origens e vendidos como bichos para trabalhar em terras que não conheciam. Castro Alves, em versos pungentes, falava da lúgubre viagem. Negros jogados nos porões dos navios. Muitos morriam. Não suportavam o sofrimento, a saudade e as doenças.

  Pois foi o que lembrei agora, vendo as imagens que todos os dias invadem os noticiários de televisões da Europa. Negros tentando fugir para a Europa, em velhos barcos improvisados e repletos de gente. São os navios negreiros do mundo moderno. Sem grana, sem participar do mercado, eles são considerados como globalmente inúteis.

  A África é um continente devastado. Outros falam em continente definitivamente destruído.

  Mas quem transformou a África no que ela é hoje? Com certeza os países da Europa são os grandes responsáveis. Através de políticas oportunistas e irresponsáveis, os europeus sempre apoiaram ditaduras sanguinárias e malucas, considerando sempre mais importante a riqueza natural, o diamante, o marfim, o café do que a vida humana.

  O que resta da África hoje é um continente cemitério, ainda arquejando sobre o rufar de ditaduras paranóicas e/ou megalomaníacas.

  Quanto aos negros, verdadeiros donos do continente, sonham em cair fora. Desejam fugir.

  Infeliz destino. Naquele tempo, eles ainda custavam algum derréis. Hoje, não tem preço. Ninguém os quer. Vagueiam em ondas, sem rumo.


  Como brasileiro, gostaria muito de ver uma mobilização do meu país em relação a esta gente. Podemos acolhê-los como irmãos.

  Sim, em nossas veias corre o mesmo sangue dessa gente. Em nossos corações dorme uma solidariedade alimentada pelas batidas dos tambores e das danças – sagradas e profanas - que tanto nos animam. Claro, nós saberemos recebê-los com amor e humanidade.

  Se o nosso governo tiver sabedoria, eis uma extraordinária oportunidade para mostrar que somos um povo diferente..."

  Antonio Mourão Cavalcante, a_mourao@hotmail.com
  Médico, antropólogo e professor universitário


  (Fonte: O Povo)

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