27 de ago. de 2011


 "'O povo de quem fui escravo não será mais escravo de ninguém'


  'A polarização na crise que desembocou no suicídio do Getúlio foi a que comandou a história brasileira desde 1930 e, de certa forma, continua a polarizá-la ate hoje. Getúlio foi o estadista que colocou as bases da construção de um Brasil nacional, popular, democrático, quebrando a espinha dorsal das oligarquias agrário-exportadoras, que mandavam no país há séculos. E isto não lhe perdoaram nem essa direita radicada aqui, nem os EUA.
  A crise de 1954 se deu em torno de denúncias de corrupção atribuídas ao governo, mas não era preciso olhar muito a fundo a situação para saber que o elemento estratégico fundamental do segundo governo do Getúlio foi a insistência na existência de petróleo no Brasil – contra a posição de Rockfeller e dos EUA – e a fundação da Petrobras, no bojo da campanha 'O petróleo é nosso', levada a cabo pelas forcas populares, especialmente sindicatos e movimento estudantil.
  Com tantos ditadores corruptos vinculados aos EUA, se concentraram na luta contra o Brasil e a Argentina, pelas lideranças nacionalistas desses países e pelo potencial econômico e politico dos dois países.
  A direita – o tucanato da época – se concentrava no tema da corrupção agregando setores de classe media do centro e sul do país, tentando se contrapor ao enorme apoio popular que as políticas econômicas nacionalistas e sociais populares do governo. Por isso a direita perdia todas as eleições. Apelava então para os quartéis, buscando, desde 1945, quando fundaram a Escola Superior de Guerra – Golbery e Castello Branco entre eles – e foram os representantes aqui da Doutrina de Seguranca Nacional, promovendo tentativas de golpe ao longo de toda a década de 1950 até conseguirem em 1964.
  Em 1954, Getúlio Vargas impediu, num dia como hoje, 24 de agosto, que triunfassem sobre ele. Entregou sua vida e reverteu uma situação armada para derrubá-lo e instalar governos repressivos e entreguistas, como os da ditadura militar.
  A releitura de 1954 ajuda a pensar a história brasileira desde então. As bandeiras da direita e da esquerda seguem similares. O denuncismo moralista e golpista de um lado, a defesa dos interesses nacionais e sociais, de outro. Setores conservadores de um lado, setores populares de outro.
  Vale a pena a releitura da Carta Testamento do Getúlio. Ela dá sentido à continuidade da história do movimento popular brasileiro desde 1930 até hoje, 80 anos depois, e projetado no futuro do Brasil no novo século. A grandeza que Lula conseguiu ter como presidente veio, em boa medida, dessa compreensão."

  (Emir Sader)

  Artigo enviado a este Blogue por Eliton Meneses

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