Por Luis Nassif
"As denúncias contra o Ministério dos Esportes prosseguem no mesmo estilo das anteriores: publicam as pautas em vez de levantar as matérias.
Pauta é o planejamento da matéria. São dicas, indícios, suspeitas que precisam ser apuradas para que as provas sejam levantadas e se escreva a matéria. É um repeteco da matéria da Veja, já que se baseia exclusivamente nas declarações de João Dias. Não há um esforço adicional, uma busca de pistas e provas eventualmente levantadas pelo ex-policial, para se ir além da pauta.
O que diz o réu?
Era obrigado a pagar pedágio ao PCdo B. Verossímil.
Quando constatado os desvios, segundo João Dias, o Ministério temeu pelo escândalo e propôs um acordo de silêncio.
'O Orlando disse para eu ficar tranquilo, que tudo seria resolvido, que não faria escândalo. Eu disse que se isso não fosse feito eu tomaria todas as providências e denunciaria o esquema', afirmou Ferreira. 'E eu disse na reunião que descobri todas as manobras, a ligação dos fornecedores do Programa Segundo Tempo com o PC do B.'
O acordo teria sido tão meticuloso, segundo João Dias, que foi protocolado um documento com data retroativa, limpando sua barra:
'Nessa reunião com o Orlando, eles falaram em produzir um documento sem data. Ele foi pré-produzido e consagrado. A reunião foi em março, mas eles colocaram um documento com data de dezembro de 2007 dizendo que eu encerrava o convênio. É um documento fraudado', disse João Dias.
Duas semanas depois, outra reunião para selar o acordo que, segundo João Dias, teria sido gravada:
Duas semanas depois do encontro com Orlando, uma nova reunião foi realizada, segundo o policial, também no ministério, numa sexta-feira à noite, após o horário do expediente. Participaram da conversa, segundo ele, três dirigentes da pasta, Wadson Ribeiro, Fábio Hansen e Júlio Filgueiras. Neste encontro, voltaram a discutir um acordo, que, segundo o policial, nunca foi cumprido. João Dias Ferreira afirma que essa reunião foi gravada por ele.
Em acusações de suborno, é muito difícil ao subornador provar que não pagou. Justamente por isso o ônus da prova cabe a quem acusa. Nesse episódio em questão, foi perfeitamente possível provar que não houve o pagamento: o ex-policial foi denunciado e indiciado.
Se havia toda essa preocupação do Ministério em ocultar as fraudes, qual a razão de ele ter sido indiciado e preso?
Ao Estado, ele disse que sofreu retaliação do ministério porque se recusou a pagar propina de 20% a fornecedores do PC do B. Por outro lado, o ministério cobra dele a devolução dos recursos supostamente desviados.
Até então, o que se depreendia de seu relato é que havia um esquema, ele faria parte do esquema, quando descoberto o desvio de recursos ameaçou denunciar e as principais cabeças do Ministério teriam se reunido com ele para comprar seu silêncio. Mas ele foi denunciado e responde a inquérito, segundo ele, porque não teria pago a propina. Afinal, a razão das supostas reuniões teria sido comprar seu silêncio ou cobrar a propina?
Espremendo a reportagem, o que fica:
- Duas reuniões das quais não se tem até agora nenhum registro e cuja única “prova” é a palavra de João Dias.
- Uma suposta gravação da reunião que encerraria de vez a questão e liquidaria a fatura. Mas não apareceu. A única prova da sua existência é a palavra de João Dias.
- A comprovação de que não houve o tal pagamento pelo silêncio do réu, já que ele foi denunciado e processado. Como fica então o tal acordo que teria mobilizado toda a cúpula do Ministério?
Não tenho a menor ideia se Orlando Dias é inocente ou não e nem coloco a mão no fogo por ele. Mas até agora não apareceu uma denúncia sólida contra ele. Existe apenas a reprise de um mesmo filme: o testemunhal de um testemunha absolutamente suspeita."
(Matéria enviada por Eliton Meneses)
Nenhum comentário:
Postar um comentário