"A televisão não é apenas um instrumento de diversão. Ela invade nossos lares e, pela força do convencimento visual, introduz padrões morais e sociais. Passa valores. Estabelece regras de comportamento. Dita normas do como viver. Faz a cabeça dos brasileiros. Não somos uma sociedade ágrafa? As coisas não entram pelo que se lê, mas pelo que se vê. Pois bem, apesar de o País viver um clima de incentivo à educação pública, estabelecendo até uma lei federal com proposta de melhor salário para os professores – o piso salarial – e a busca de melhores condições de trabalho, a Rede Globo aparece na contramão da sociedade. Entra no debate com uma proposta muito curiosa. Refiro-me à novela Fina Estampa, que consegue avacalhar a escola com cenas bem explícitas de deboche.
Uma personagem (Solange – Carol Macedo), ainda adolescente, se rebola numa festa e canta em estilo funk: 'Aprender é desafio/ Mas no funk eu arrepio/ Eu odeio redação/ Mas requebro até o chão/ Não sou boa no estudo/ Levo zero em quase tudo/ Reprovada no provão/ Tirei dez no popozão/ Meu diploma é de funkeira/ Vem comigo meu irmão/ Põe a mão no popozão/ E requebra até o chão/ Chão, chão, chão!' E, não satisfeito, o autor resolve colocar a mãe da jovem, Celeste (Dira Paes), aplaudindo a filha e muito orgulhosa com a possibilidade da filha tornar-se uma celebridade. A ingenuidade deixa de ser inocente para tornar-se uma perversão. Não se nega valores, mostra-se o mórbido como condução natural. Nesse instante, dada a imensa audiência, esse comportamento adquire legitimação. A inocência da adolescente vira um jogo perigoso de corpo em exposição. Há a esdrúxula explicitação de que o corpo feminino; é carne a uso. A garota é convidada a seguir a pista nebulosa da erotização precoce, quase antessala da prostituição. Do corpo à venda Não por acaso, O POVO, no Dia da Criança, revelou em primeira página o sonho de duas meninas: 'quero ser atriz'... 'quero ser modelo'. Pobres meninas do Brasil..."Antonio Mourão Cavalcante, a_mourao@hotmail.com Médico, antropólogo e professor universitário, no O Povo de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário