12 de nov. de 2011

O PROFESSOR QUE FEZ O MESTRE APRENDER!



   “Nunca me esqueço, na história já longa de minha memória, de um desses gestos de Professor que tive na adolescência remota. Gesto cuja significação mais profunda talvez tenha passado despercebida por ele, o Professor, e que teve importante influência sobre mim. Estava sendo, então, um adolescente inseguro, vendo – me como um corpo anguloso e feio, percebendo – me menos capaz do que os outros, fortemente incerto de minhas possibilidades. Era muito mais mal – humorado que apaziguado com a vida. Facilmente me eriçava. Qualquer consideração feita por um colega rico da classe já me parecia o chamamento à atenção de minhas fragilidades, de minha insegurança.
  O Professor trouxera de casa os nossos trabalhos escolares e, chamando – nos um a um, devolvia – os com seu ajuizamento. Em certo momento me chama e, olhando ou re – olhando o meu texto, sem dizer palavra, balança a cabeça numa demonstração de respeito e consideração. O gesto do Professor valeu mais do que a própria nota dez que atribuiu à minha redação. O gesto do Professor me trazia uma confiança ainda obviamente desconfiada, de que era possível confiar em mim mas que seria tão errado confiar além dos limites, quando errado estava sendo não confiar. A melhor prova da importância daquele gesto é que dele falo agora  como se tivesse sido testemunhado hoje. E faz, na verdade, muito tempo que ele ocorreu...” (PAULO FREIRE in PEDAGOGIA DA AUTONOMIA, São Paulo, Paz e Terra, 1996).

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Nem o belo logradouro escapa. Triste fim de uma gestão lastimável!