"06:30 h AM. Ainda sonolento a caçulinha chega ao meu pé de ouvido de diz baixinho: '- Papai, tem um homem no portão lhe chamando. Levantei-me ainda 'esfregano a boca e abrino os zói' (ou é o contrário?), para ver de quem se tratava. Ainda dormindo reconheci o velho camarada de outras prosas, que no portão me aguardava com três volumes de castanha de caju, encomendados pelo um amigo que desejava agraciar parentes em 'Sum Paulo'. Manoel Adeodado Fontenele. Eis o nome da ilustre figura. É uma enciclopedia quando o assunto é a história das famílias que habitam esta região. Meu xará e primo, como eu sempre o trato, que é um homem de poucas letras, dá lição em qualquer letrado, deixando-o boquiaberto. Convidei-lho a entrar e sentar à mesa de café que ardia no borralho àquela hora da manhã. Conversa vem conversa vai, sai o café quente, misturamos com um dedo prosa, quando o mesmo se interessa em saber as origens da dona patroa. Constatando que a dita-cuja é também Fontenele, aproxima os laços familiares e põe-se a tratar das origens deste nome tão comum por estas bandas do Ceará. E foi mais além. - Dona! - Disse ele. - Somos descendentes de franceses... Temos nossas origens no patriarca João Pierre Fontenele, que chegou nestas bandas vindo de Viçosa do Ceará e que era um francês nascido Jean Pierre La Fontaine. Aí os nativos falaram... falaram... e o Fontaine virou Fontenele... - Aí eu digo: Viram? Quando há sede de conhecimento não precisamos ter mãos finas que sabem apenas alisar caneta Bic. Com mãos calejadas pelo cabo da foice e queimadas com o óleo da casca da castanha de caju também se adquire saber. Tenho dito... E sempre!!!
P.S. Depois de uma hora de conversa o mesmo me convidou, dando-me passaporte, para quando eu quiser, também fazer uma visitinha à residência, lá no município de Granja, mas precisamente no distrito de Paula Pessoa, para mais prosa e troca de saberes. Vou-me preparar, estudando um pouco para tal momento."
(MANUEL DE JESUS)
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