- Lá vem este filho d'umá égu...
- Calma! Calma... Que minha santa mãezinha não é culpada de nada!
- É que estou vendo logo pelo início destas suas mal traçadas linhas que o assunto é fraco e nem parece ser de sua própria autonomia, como diria aquele personagem de Chico City.
- Realmente amado leitor, não é por de inteiro de minha autoria o teor destes traçados, dizer-lhos-ei que apenas os arremates sucupiranos saíram desta mente não tão fértil quando gostaria que a mesma fosse. Mas vamos arrematar. Como diria Odorico, deixarei de lado os entrentantos e irei pular direto pros finalmentes:
O Juvenal era destes caboclos simples, honesto, sem muita pressa por o corre-corre da vida. Vivia de bico, empurrando seu carrinho de pipocas. Mas era um cara satisfeito. O Juvenal, apesar de sonhar com dias glória, gostava mesmo de sua vidinha simples e dela (vida) nunca se ouviu do mesmo uma maledicência sequer. Amava à esposa, a penca de filhos que a falta de televisão lhe proporcionara conceber e mais, principalmente, sua santa mãezinha. Esta que o pusera no mundo. Esta, sim. A causa maior de sua felicidade de viver. Escrevê-la mensalmente era o mais puro exercício de prazer, pois a mesma morava em cidade distante, e mais alegre ficava quando dias depois recebia a resposta em emvelope postado como carta social, onde em letras trêmulas sua genitora lhe deseja paz, saúde e vida boa. Estava atualmente Juvenal passando por grandes dificuldades financeiras há meses... Com a resistência que só os brasileiros têm, o Juvenal foi tentar um emprego e fazer uma entrevista.
Ao chegar ao escritório, o entrevistador observou que o candidato tinha exatamente o perfil desejado, as virtudes ideais e lhe perguntou:
- Qual foi seu último salário?
- Não tinha salário não senhor, vivia de bicos, carrinho de pipopca...
- Pois se o senhor for contratado, ganhará 10 mil dólares por mês!
- Jura? Gritou, assustado, Juvenal.
- Que carro o senhor tem?
- Na verdade, agora eu só tenho um carrinho pra vender pipoca na rua...
- Pois se o senhor trabalhar conosco ganhará um Audi A8 para você e uma BMW para sua esposa! Tudo zero!
- Jura? Gritou mais assustado ainda Juvenal.
- O senhor viaja muito para o exterior?
- Que nada! Do mundinho em que nasci, o lugar mais longe que fui lá na serra da Penaduba, no sítio Urubu, Jurema nos corredores e no serrote do Cigano. É bem verdade que da última vez que me bandeie pelas bandas de Jurema, me perdi e se não fosse uns parentes por lá, teria sido comido pelas onças... Mas já faz bastante tempo isso..
- Pois se o senhor trabalhar aqui viajará pelo menos 10 vezes por ano para Londres, Paris, Roma, Mônaco, Nova Iorque, etc.
- Jura? Gritou mais assustado ainda Juvenal. Dessa vez o coração quase não aguenta!!!
- E lhe digo mais.... O emprego é quase seu. Só não lhe confirmo agora porque tenho que falar com meu gerente. Mas é praticamente garantido. Se até amanhã (6ª feira) à meia-noite o senhor NÃO receber um telegrama nosso cancelando, pode vir trabalhar na segunda-feira, com todas essas regalias que eu citei. Então já sabe: se NÃO receber telegrama cancelando até à meia-noite de amanhã, o emprego é seu! Juvenal saiu do escritório radiante. Agora era só esperar até a meia-noite da 6ª feira e rezar para que não aparecesse nenhum maldito telegrama.
Mas como todo brasileiro o Juvenal não era diferente. Não aguentou a ânsia de um dia e resolver festejar antecipado. Não poderia haver sexta-feira mais feliz . E Juvenal reuniu a família e contou as boas-novas. Convocou o bairro todo para uma churrascada comemorativa à base de muita música.
Sexta de tarde já tinha um barril de chope aberto... Às 9 horas da noite a festa fervia. A
banda tocava, o povo dançava, a bebida rolava solta.
Dez horas, e a mulher de Juvenal aflita, achava tudo um exagero... A vizinha gostosa, interesseira, já se jogava pro lado do Juvenal. E a banda tocava! E o chope gelado rolava! O povo dançava!
Onze horas, Juvenal já era o rei do bairro. Gastara horrores para o bairro encher a pança.
Tudo por conta do primeiro salário. E a mulher resignada, meio aflita, meio alegre, meio
boba, meio assustada. Achava tudo aquilo meio precipitado... Mas Juvenal já tinhas tomado umas geladas e nem imaginava que a até a meia noite aquele sonho poderia acabar...
Às onze horas e cinqüenta e cinco minutos, vira na esquina buzinando feito louco, um cara numa motoca amarela da empresa de correios. - Puta que pariu!, pensaram todos... Correio!
A festa parou!
A banda calou!
A tuba engasgou!
Um bêbado arrotou!
Uma velha peidou!
Um cachorro uivou!
Meu Deus! E agora? Quem pagaria a conta da festa?
- Coitado do Juvenal! Era a frase mais ouvida.
- Joguem água na churrasqueira!
O chope esquentou!
A mulher do Juvenal desmaiou!
A motoca parou!
O cara desceu e se dirigiu ao Juvenal:
- Senhor Juvenal Batista Romano Barbieri?
- Si, si, sim, sô, sô, sou eu...
A multidão não resistiu...
OOOOOHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!
E o cara da motoca:
- Telegrama para o senhor...
Juvenal não acreditava... Meu Deus do céu... Puta que pariu.... Que merda!!!
Pegou o telegrama, com os olhos cheios d'água, ergueu a cabeça e olhou para todos.
Silêncio total.
Não se ouvia sequer uma mosca!
Juvenal respirou fundo e abriu o envelope do telegrama tremendo, enquanto uma lágrima rolava, molhando o telegrama.
Olhou de novo para o povo e a consternação era geral.
Tirou o telegrama do envelope, abriu e começou a ler...
O povo em silêncio aguardava a notícia e se perguntava:
- E agora? Quem vai pagar essa festa toda?
Juvenal recomeçou a ler baixinho um pouco triste, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo que o encarava...
Alguns minutos de silêncio, Juvenal se refez do baita susto... Encheu o peito de ar e... e...
então abriu um largo sorriso, deu um berro triunfal ecomeçou a gritar eufórico.
- Que bom!!!! Foi a mamãe que morreeeeuuu....
Tenho dito... E sempre!!!"
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