"De vez em quando o pensar cisma em defender bandeiras que não se vê tremulando por aí. Hoje saio em defesa do chinelo. Não importa de que material é feito. Chinelo é chinelo. Domesticado, pode ser encontrado sem o uso das mãos, até no escuro. Fica sempre no canto; é o destino. Até dura mais. É como lembrança adormecida de um certo alguém, que basta sentir o perfume cheirado, para avivar a imagem desbotada. De dedinhos, com florzinhas ou até encardido, o chinelinho devido, à sua 'natureza', sai do pé e intitula situações muitas vezes vexatórias. Isso, porque estar 'no chinelo' quer dizer estar por baixo, na pior, na de horror, enquanto que os saltos representam atitudes bem mais 'elevadas'. Todos os dias encontro o meu à minha espera, próximo à cama - o meu outro aconchego. O azul só é encarado com mais tempo, quando me demoro a limpá-lo. Já tive chinelos de tudo quanto é marca e cor. Os de grifes só quando ganho. Até parece! Não gasto dinheiro por conta de nomes emblemáticos. Já estive na base do chinelo por muito tempo. E digo, nada melhor do que manter os pés no chão. Se nos saltos sou capaz de apontar o dedo e cobrar ação, no chinelo só ergo as mãos e peço clemência."
(Fátima Abreu, jornalista cearense)
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