DIVULGAÇÃO DA CARTA DO
PROF. GILDEMAR PONTES (A PEDIDO DELE) À MINISTRA DA CULTURA ANA DE
HOLLANDA:
"Prezada Ministra da
Cultura,
Artista, Leitora, Ana de
Hollanda.
É com imenso pesar que
venho pedir a Senhora Ministra que encaminhe para o Brasil inteiro
uma NOTA DE PESAR pela quase morte da Livraria Lesco-Lesco, situada
no Calçadão Tenente Sabino, 63 - Centro, cidade de Cajazeiras-PB,
cidade que ostenta o jargão de ter sido 'A cidade que ensinou a
Paraíba a ler'.
Creio que a
excelentíssima ministra poderia abrir um inquérito criminal para
apurar as condições que levarão a óbito mais uma Livraria neste
país.
Posso emprestar meu nome
de escritor, professor universitário, leitor e co-proprietário da
Livraria Lesco-Lesco como testemunha principal no processo. Eu vi,
com estes olhos que a terra há de comer; eu ouvi, com estes ouvidos
entupidos por essa música ordinária e estupidificante que tomou
conta das rádios do país, e tem feito a juventude perverter seus
valores morais e éticos, rebolando e repetindo como papagaio
refrões que degeneram a condição feminina e exaltam a imbecilidade
masculina; sim, senhora ministra, eu sou testemunha ocular e
auricular.
A cidade de Cajazeiras tem o privilégio de ter um campus de uma Universidade Federal de Campina Grande, um Instituto Federal, três Faculdades Particulares e inúmeros cursos caça-níquel oferecidos por universidades/ Faculdades de fachada. Lamento, como professor da Universidade Federal, que a educação esteja também caminhando célere para a agonia de esperar a sua barbarização. Sou articulista ocasional de jornais e sites e, sempre que publico um artigo sobre educação, recebo inúmeras palavras de conforto, como se eu, pobrezinho de um professor, estivesse arquejando numa profissão que só teve passado. É, a senhora há-de convir que não há futuro para nós, devotos homo sapiens escolarizados.
Não irei de forma alguma
colocar culpa no governo, o governo para a massa é uma abstração
representada por um(a) vereador(a), um(a) deputado(a), um(a)
senador(a) e um(a) presidente(a) inacessíveis. Quando o povo chega
perto de um político é para pedir favores e/ ou esmolas, o que dá
no mesmo.
A senhora, como artista,
tem um currículo portentoso, por isso é ministra com categoria para
tal. Mas os artistinhas das cidadezinhas dos interiorezinhos deste
gigante adormecido, quiçá anestesiado, Brasil, gostariam de ter uma
conversa com a senhora, procurar entender como é ser artista aí por
cima, quando aqui embaixo a cultura anda cada vez mais curta,
apesar dos esforços dos editais e das políticas dirigidas aos que
sabem elaborar projetos. Pois é, para os artistinhas,
principalmente os populares, a maior barreira entre a cultura e a
curtura é um projeto.
Bem, mas não quero
desfocar o objeto desta carta, que é a denúncia do crime contra os
leitores brasileiros. Quando eu era universitário, na década de 80,
ouvia falar que havia mais livrarias na cidade de Buenos Aires do
que no Brasil inteiro. Creia, minha ministra, eu morria de
vergonha. E naquela época eu coloquei na cabeça que iria ter uma
Livraria para poder diminuir esta relação entre 'los
hermanos' borgistas e cortazistas da capital argentina, e
nós, boleiros pelezistas, ronaldistas e agora, perdoe a má palavra,
bigbrotherzistas. Minha mãe diria, sem
entender o que falo, 'cruz credo, meu
filho'.
Não sei se a senhora é
uma destas mulheres chatas da administração, com cara de sargentão,
sem ofensas ao sargento, que pensam que a igualdade de gêneros é
uma imposição e tratam os homossexuais, negros e índios como
cotistas de uma civilização morena, como diria o velho Brizola. E
daí passam a discriminar o povo como homofóbico, racista e
colonialista, quando na verdade o povo precisa é de Educação,
Emprego, Saúde, Cultura, para entender minimamente o que é bem
estar social e igualdade de tudo. Excetuo a senhora disto, porque
respeito e admiro sua família, principalmente o Sérgio Buarque de
Hollanda.
Mas lamento e me revolto
pela morte de uma Livraria, porque sou escritor, professor e
leitor, repito. E vou depor em todos os fóruns onde possa alcançar
a minha voz e a minha palavra escrita, que nós sucumbimos muito com
a morte dos nossos valores culturais e
intelectuais."
Carlos Gildemar
Pontes
Escritor, Professor de
Literatura da UFCG, Editor da Revista Acauã. (83)
9110.9503.
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