sábado, 31 de março de 2012

POESIA CEARENSE



CATIVEIRO

Passarinho, vai – te embora

Deste raminho fronteiro,
Que em meu rosto cor da noite
De prantos cai um chuveiro
Vai cantando a liberdade
Que eu choro meu cativeiro

És ditoso; alegre e solto

Tu cantas o ano inteiro;
Não te escute o desgraçado
Vai cantando a liberdade
Que eu choro meu cativeiro

Tua lei é o teu desejo

Sempre assim neste janeiro
Minha lei – capricho alheio
Meu caminho o mais fragueiro!
Vai cantando a liberdade
Que eu choro meu cativeiro

Entre os teus nos verdes prados,

Tu divagas prezenteiro;
Eu só nas lidas do campo,
Ou gemendo no terreiro
Vais cantando a liberdade,
Que eu choro meu cativeiro

Quando é noite, tu descansas

Sobre o teu ramo altaneiro,

 E eu por entre os meus soluços
Ferido neste espinheiro...
Vai cantando a liberdade,
Que eu choro meu cativeiro

De manhã, quando despertas,

Vens banhar – te no ribeiro,
E eu de enxada no ombro marcho
Mais triste pra o cafeeiro
Vai cantando a liberdade
Que eu choro meu cativeiro

Como invejo a tua vida

Teu destino lisonjeiro!
Bem quisera ser – não posso...
No riso teu companheiro!
Vai cantando a liberdade
Que eu choro meu cativeiro

Ou me leva pelos ares

Onde voas sobranceiro;
Mas, me prendem férreos laços...
Antes fora o leve argueiro !
Vais cantando a liberdade
Que eu choro meu cativeiro

Bate as asas, vai embora ...

Voa ao céu, voa ligeiro;
Pede a Deus misericórdia...
Que me salve, justiceiro
Vai cantando a liberdade
Que eu choro meu cativeiro.

JUVENAL GALENO, 1865

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