"A
partir da década de sessenta, uma revolução eclésio-social irrompe na América
Latina. As posturas elitistas da hierarquia eclesial (sacerdotes e religiosos)
são questionadas. Dá-se mais espaço para a participação laica. A comunidade
passa a ter centralidade e a realidade social se torna alvo da ação política
organizada.
Delineia-se
um conjunto de posturas éticas no modo de ser Igreja e análise do Evangelho, a
partir da relação deste com o sofrimento do povo de Deus, denominado Teologia
da Libertação, procurando constituir um saber-fazer religioso ancorado na vida.
Viver a comunidade, a partilha e a organização com fins à conquista e
efetivação de direitos ganha forma nas CEBs – Comunidades Eclesiais de Base.
Uma igreja pobre, que se posiciona politicamente a favor dos excluídos ganha
mais força e se confronta com o status quo.
Esse
rebuliço extremo, que parte do seio do povo e abala as estruturas da Igreja
Católica, tem suas tantas influências na forma como os movimentos sociais se
encorparam na América Latina. É das CEBs que nasce o ímpeto comunitário de
pensar um sem-número de sindicatos rurais, associações, cooperativas, etc. É das
CEBs que sai a mística e a força dos mártires, líderes assassinados pela
ganância dos poderosos (latifundiários, políticos corruptos), dentre os quais
podemos situar Chico Mendes, Ir. Dorothy Stang, Margarida Alves e, bem mais
perto de nós, o coreauense Benedito Tonho, infelizmente por muitos desconhecido
e praticamente apagado dos registros históricos coreauenses (uma vez que a
história coreauense que é lembrada, como não só aqui, é a dos grandes, das
elites palmenses).
A
mística crítica das CEBs ancora direta ou indiretamente muitos das organizações
sociais com fins populares de nossa região. Os STRs (Sindicatos dos
Trabalhadores Rurais) em muito devem à Igreja-Comunidade. O PT (Partido dos
Trabalhadores), em vários municípios, tem suas primeiras discussões propostas
por pessoas das CEBs. Várias ONGs (Organizações Não Governamentais) hoje com
atuação e renome, cultivando alternativas de convivência com o Semiárido e
fortalecimento da organização produtiva local, também sofrem influência da
movimentação que as CEBs estimularam. Não podemos renegar – ao tentar pensar
projetos coletivos e analisar a história dos movimentos sociais em nossa
região, e também propor novos passos a se dar – toda a contribuição que o povo
organizado nas comunidades deu e dá.
As
CEBs são história, entretanto, também são presente. Aos ditos esquerdistas,
embebidos nos modismos 'revolucionários', peço que deem uma olhada no que
embasa tudo aquilo que hoje existe em termos de organização popular e
contribuíram em muito para o alto grau de conquistas sociais que temos, e lá
estará como uma das forças principais as CEBs."
(Benedito
Gomes Rodrigues)
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