27 de abr. de 2012

NA CORRIDA CONTRA O TEMPO

  "Limitados pelas possibilidades do tempo é que podemos viver. Estamos aqui finitamente, portanto, o envelhecimento e a morte são, obviamente, inevitáveis. Talvez o primeiro possa até ser evitado com morte prematura, mas quem prefere morrer a curtir mais a vida envelhecendo, em sã consciência? Na Sociedade Pós-Moderna, a Sociedade do Consumo, a qualquer custo se procura fugir do envelhecimento. O ideal de juventude eterna é dominante. E, para sustentar tal ilusão, usa-se todo um aparato de cosméticos, intervenções cirúrgicas com fins estéticos e tratamentos que garantem disfarçar ou retardar o envelhecimento. As rugas têm, então, de ser esticadas, os cabelos brancos tingidos, as roupas têm de ser iguais as dos jovens, as primeiras estrias causam horror. Não se promove a beleza própria do idoso.

  Enquanto os abastados gastam fortunas para se manterem jovens, milhões padecem de fome, morrem antes do tempo. É o retrato da sociedade desigual, que influencia a infelicidade de ambas as partes: os ricos, que se veem na pressão e falta de sentido da batalha constante por comprar, inclusive comprar a própria aparência mais agradável, e os pobres padecendo com as desigualdades, com a fome, com a miséria.

  No filme, recente e que vem tendo bastante respaldo por parte da crítica, “O Preço do Amanhã”, faz-se uma metáfora acerca da vida humana. Apresenta-nos um mundo onde as pessoas não mais envelhecem a partir dos 25 anos de idade. Cada um possui no braço uma espécie de relógio que conta quanto tempo resta ao indivíduo. O dinheiro utilizado é o próprio tempo de vida disponível para cada um. Enquanto, de um lado, a maioria briga por minutos, de outro, uma elite usurpa o tempo e pode viver sem pressa, praticamente para sempre.

  Essa metáfora que o filme propõe é mui útil ao analisarmos a situação de nossa sociedade atual. De fato, o tempo é usurpado. O direito de envelhecer, também.

  O desenrolar do filme é protagonizado por um casal: um homem advindo da periferia, acostumado a se comportar com pressa pela correria (literalmente contra o tempo) do dia-a-dia de um pobre, e uma moça da elite, entediada pela vida monótona dos que não vivem por temerem morrer. Ambos se defrontam com a realidade de desigualdade e se rebelam contra ela, sabendo que há tempo suficiente para todo mundo viver bem. Saem a abalar paulatinamente o sistema, através de saques a bancos de tempo, e distribuem na periferia o saldo obtido.

  Do mesmo modo, atualmente, há plenas condições materiais de toda a humanidade ser mantida, e bem mantida, pela Mãe-Terra. Porém, ainda sim, mais de um bilhão de pessoas passa fome, outros bilhões estão em estado de pobreza, enquanto há bilionários, que não sabem com o que gastar tanto dinheiro, assim como os entediados ricos do filme, que não sabem o que fazer com tanto tempo para viver.

  Enquanto isso, as massas são manobradas, influenciadas a aderirem ao um caro ideal comum, fundamentado no medo e na falta de sentido atuais para este processo natural da vida, o envelhecimento. Não se tem mais um sentido para morte, e a velhice é colocada de lado, enquanto fase última, mas não menos importante de nossas passagens. Esta ação de ignorar nosso processo natural de vida, ao invés de procurar aprender com ele pode causar sérios impactos emocionais.

  (Benedito Gomes Rodrigues)
  

Nenhum comentário:

30

AV. BEIRA MAR NO ABANDONO

Nem o belo logradouro escapa. Triste fim de uma gestão lastimável!