"Limitados pelas possibilidades do tempo
é que podemos viver. Estamos aqui finitamente, portanto, o envelhecimento e a
morte são, obviamente, inevitáveis. Talvez o primeiro possa até ser evitado com
morte prematura, mas quem prefere morrer a curtir mais a vida envelhecendo, em
sã consciência? Na Sociedade Pós-Moderna, a Sociedade do
Consumo, a qualquer custo se procura fugir do envelhecimento. O ideal de
juventude eterna é dominante. E, para sustentar tal ilusão, usa-se todo um aparato
de cosméticos, intervenções cirúrgicas com fins estéticos e tratamentos que
garantem disfarçar ou retardar o envelhecimento. As rugas têm, então, de ser
esticadas, os cabelos brancos tingidos, as roupas têm de ser iguais as dos
jovens, as primeiras estrias causam horror. Não se promove a beleza própria do
idoso.
Enquanto os abastados gastam fortunas
para se manterem jovens, milhões padecem de fome, morrem antes do tempo. É o
retrato da sociedade desigual, que influencia a infelicidade de ambas as partes:
os ricos, que se veem na pressão e falta de sentido da batalha constante por
comprar, inclusive comprar a própria aparência mais agradável, e os pobres
padecendo com as desigualdades, com a fome, com a miséria.
No filme, recente e que vem tendo bastante
respaldo por parte da crítica, “O Preço do Amanhã”, faz-se uma metáfora acerca
da vida humana. Apresenta-nos um mundo onde as pessoas não mais envelhecem a
partir dos 25 anos de idade. Cada um possui no braço uma espécie de relógio que
conta quanto tempo resta ao indivíduo. O dinheiro utilizado é o próprio tempo
de vida disponível para cada um. Enquanto, de um lado, a maioria briga por
minutos, de outro, uma elite usurpa o tempo e pode viver sem pressa,
praticamente para sempre.
Essa metáfora que o filme propõe é mui
útil ao analisarmos a situação de nossa sociedade atual. De fato, o tempo é
usurpado. O direito de envelhecer, também.
O desenrolar do filme é protagonizado
por um casal: um homem advindo da periferia, acostumado a se comportar com
pressa pela correria (literalmente contra o tempo) do dia-a-dia de um pobre, e
uma moça da elite, entediada pela vida monótona dos que não vivem por temerem
morrer. Ambos se defrontam com a realidade de desigualdade e se rebelam contra
ela, sabendo que há tempo suficiente para todo mundo viver bem. Saem a abalar
paulatinamente o sistema, através de saques a bancos de tempo, e distribuem na
periferia o saldo obtido.
Do mesmo modo, atualmente, há plenas
condições materiais de toda a humanidade ser mantida, e bem mantida, pela
Mãe-Terra. Porém, ainda sim, mais de um bilhão de pessoas passa fome, outros
bilhões estão em estado de pobreza, enquanto há bilionários, que não sabem com
o que gastar tanto dinheiro, assim como os entediados ricos do filme, que não
sabem o que fazer com tanto tempo para viver.
Enquanto isso, as massas são manobradas,
influenciadas a aderirem ao um caro ideal comum, fundamentado no medo e na
falta de sentido atuais para este processo natural da vida, o envelhecimento.
Não se tem mais um sentido para morte, e a velhice é colocada de lado, enquanto
fase última, mas não menos importante de nossas passagens. Esta ação de ignorar
nosso processo natural de vida, ao invés de procurar aprender com ele pode
causar sérios impactos emocionais.
(Benedito Gomes Rodrigues)
Nenhum comentário:
Postar um comentário