AO
PENSAR PROJETOS PARA HOMENS
Meu
pai, que sequer possui a formação correspondente ao primeiro quartel do Ensino
Fundamental, e, laboriosamente, obriga-se a viajar toda santa madrugada para
Moraújo, vender pão numa velha bicicleta bagageira, a fim de trazer pão a nossa
casa, soltou-me uma afirmação, dia desses, que é mesmo pra se refletir. Dizia
ele: “Jesus foi socialista, ora, ao pregar sermos irmãos!”. Espantei-me com a
sábia frase repentina.
Jesus
foi mesmo socialista! Não nos ditames teóricos de Marx, mas socialista,
certamente! Socialista ao anunciar a partilha, o sobre-erguimento da
comunidade, a recusa aos excessos, o amor desinteressado, dentre tantos valores
e práticas que, no final das contas, se levados a sério, afora os moralismos
culturais que permeiam os evangelistas e os pregadores afoitos, permitiriam
vivermos uma sociedade de irmãos, onde tudo seria de todos!
Ainda
hoje esses ideais de igualdade assustam! Assustam, inclusive, aqueles que
acumulam à custa do nome de quem não tinha onde reclinar a cabeça, segundo nos
apontam as sacralizadas escrituras.
Vendo
a citação dum médico ateu, reflito sobre o real sentido de nossas crenças.
Percebo que religiões podem cegar os homens, ao tornarem-se vendas e não mais
lentes nos óculos que amparam nossa vista à realidade. Noto por vezes,
amedrontado, o chão de minhas crenças desabar sob meus pés, fazendo-me sentir
frágil, um ignorante. E esta insegurança acerca de meus próprios saberes, de
repente, ajuda a não ensimesmar-me tanto.
Atrás
das ideias existem homens, situados na História, que praticam ações cotidianas
como quaisquer outros, com suas inerentes contradições, e, quando expoentes se
tornam, como quando se afiguram no rol sagrado de religiões, viram ídolos, o
povo os vê sem defeitos, e, quando acha um erro, é como se este encobrisse toda
a carga boa que também há. O povo ou vê oito ou vê oitenta. Se pretendermos ser lúcidos e analisar as
pessoas por suas práticas, para além de suas autoridades ou discursos, devemos
fugir desta regra exagerada.
Ao
pensar viver com os outros, e, também, até onde convir, para os outros, antes
façamos um exercício acerca do que nos move a isso, se é porque queremos o bem,
pelo senso de docilidade que há em nós, ou é pensando em recompensas futuras e
vanglórias presentes. As religiões
oferecem promessas para nós que podem é nos afastar do bem verdadeiro, o bem
comum, o socialismo que o nazareno falou, falaram depois dele, e ainda ecoa.
(Benedito
Gomes Rodrigues)
Nenhum comentário:
Postar um comentário