segunda-feira, 23 de abril de 2012


  AO PENSAR PROJETOS PARA HOMENS

  Meu pai, que sequer possui a formação correspondente ao primeiro quartel do Ensino Fundamental, e, laboriosamente, obriga-se a viajar toda santa madrugada para Moraújo, vender pão numa velha bicicleta bagageira, a fim de trazer pão a nossa casa, soltou-me uma afirmação, dia desses, que é mesmo pra se refletir. Dizia ele: “Jesus foi socialista, ora, ao pregar sermos irmãos!”. Espantei-me com a sábia frase repentina.

  Jesus foi mesmo socialista! Não nos ditames teóricos de Marx, mas socialista, certamente! Socialista ao anunciar a partilha, o sobre-erguimento da comunidade, a recusa aos excessos, o amor desinteressado, dentre tantos valores e práticas que, no final das contas, se levados a sério, afora os moralismos culturais que permeiam os evangelistas e os pregadores afoitos, permitiriam vivermos uma sociedade de irmãos, onde tudo seria de todos!

  Ainda hoje esses ideais de igualdade assustam! Assustam, inclusive, aqueles que acumulam à custa do nome de quem não tinha onde reclinar a cabeça, segundo nos apontam as sacralizadas escrituras.

  Vendo a citação dum médico ateu, reflito sobre o real sentido de nossas crenças. Percebo que religiões podem cegar os homens, ao tornarem-se vendas e não mais lentes nos óculos que amparam nossa vista à realidade. Noto por vezes, amedrontado, o chão de minhas crenças desabar sob meus pés, fazendo-me sentir frágil, um ignorante. E esta insegurança acerca de meus próprios saberes, de repente, ajuda a não ensimesmar-me tanto.

  Atrás das ideias existem homens, situados na História, que praticam ações cotidianas como quaisquer outros, com suas inerentes contradições, e, quando expoentes se tornam, como quando se afiguram no rol sagrado de religiões, viram ídolos, o povo os vê sem defeitos, e, quando acha um erro, é como se este encobrisse toda a carga boa que também há. O povo ou vê oito ou vê oitenta.  Se pretendermos ser lúcidos e analisar as pessoas por suas práticas, para além de suas autoridades ou discursos, devemos fugir desta regra exagerada.

  Ao pensar viver com os outros, e, também, até onde convir, para os outros, antes façamos um exercício acerca do que nos move a isso, se é porque queremos o bem, pelo senso de docilidade que há em nós, ou é pensando em recompensas futuras e vanglórias presentes.  As religiões oferecem promessas para nós que podem é nos afastar do bem verdadeiro, o bem comum, o socialismo que o nazareno falou, falaram depois dele, e ainda ecoa.

  (Benedito Gomes Rodrigues)

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