"O moralismo, disfarçado
ou declarado, pode em muito atrapalhar a agenda pública, na abordagem de algumas
questões sociais graves. Um caso exemplar, e talvez o mais polêmico, é o da
descriminalização do aborto.
Vem-se esquecendo,
sistematicamente, dos milhares de mulheres que, sem assistência específica dos órgãos
da saúde, colocam suas vidas em risco, ao realizarem abortos em clínicas
clandestinas ou mesmo em casa, através de métodos desumanos, indo desde a
ingestão de chás tóxicos até a intervenção cirúrgica, sem qualquer cuidado
higiênico e de procedimento médico. Tantas mulheres não resistem e perdem suas
vidas junto à dos fetos.
A mulher que se vê
impelida a praticar o aborto geralmente não passa por uma situação psíquica e/ou
social confortável! Uma gravidez inesperada pode acarretar um desespero
descomunal, a depender do contexto. A última coisa a se fazer num momento desta
natureza é condenar a mulher, demonizando-a, tratando-a feito uma assassina!
Não há quem mais preze
pela vida de um filho que sua própria mãe! E não há dentre os homens quem seja
mais digno de escolher seguir ou não uma gravidez que a própria grávida! Em
casos de transtorno, como quando a mulher sente repulsa à gravidez (situação
passível de acompanhamento terapêutico) é necessário apoio para que ela esteja
realmente lúcida da escolha, que nunca é (nenhum pouco) prazerosa ou recompensadora.
O aborto sempre deixa suas marcas na mulher, e não são boas marcas.
Não sou a favor do
aborto, e nem serei! A questão não é esta! Os abortos seguirão acontecendo, como
sempre aconteceram durante toda a história humana, e as mulheres morrendo
nestes procedimentos, enquanto a hipocrisia venda os olhos de muitos que fingem
que nada está acontecendo.
Sou a favor da vida! A
reprodução da vida é indispensável! A vida das mulheres que se veem impelidas ao
aborto, porém, deve ser vista em sua extrema importância, também! Seu direito
de escolha deve ser respeitado, assim como seu corpo!
Se as mulheres fossem
amparadas pelo Estado, tendo uma atenção psicossocial no sentido de localizar
os pontos de fragilidade e trabalhá-los sempre com direção à preservação da
vida, para que, somente após este acompanhamento, a mulher optasse fazer ou não
o aborto, e que, caso a escolha fosse a de fazer, houvesse uma estrutura para o
procedimento seguro, teríamos uma redução considerável dos óbitos de mulheres e
de complicações pós-aborto.
E isso não implica o
aumento de abortos! Não significa naturalizar o aborto! Reitero, a mulher em
situação normal quer mais é ter a criança, e se ela realmente não quiser tê-la,
de um jeito ou outro vai tirá-la!
É necessário que nestes
debates o que valha seja a argumentação e não a apelação. Distorce-se a
situação de modo extremamente tendencioso e mal-intencionado, mexendo logo na
ferida do povo, que é a sua religiosidade. Para além das crenças pessoais,
temos que nos ater, em políticas públicas, para aquilo que efetivamente é
melhor para o bem viver das pessoas, todas elas!
(Benedito Gomes
Rodrigues)
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