terça-feira, 1 de maio de 2012

AO PENSAR O TRABALHO...


 
  "O trabalho dignifica o homem na medida em que é movido pela intencionalidade, isto é, ao agir embasado na vontade, inteligência e criatividade. Ao contrário dos demais seres, os homens são capazes de planejar suas ações no mundo e dotá-las de sentido. As aranhas, para usar o exemplo de Marx, fazem com grande maestria complexas teias, entretanto, tal ação surge do extinto e não da vontade. Do mesmo modo, os animais também podem agir pelo condicionamento, algo além da restrição à história filogenética (comportamentos selecionados da espécie ao longo da evolução), através de seleção de resposta organísmica aos estímulos ambientais, como quando um cão adestrado levanta a pata seguindo a sugestão de seu dono, pois associa a ação com a recompensa (a comida, por exemplo), não representando uma intervenção consciente no mundo. O homem, no entanto, pode agir conscientemente; pode dominar, minimamente, seus extintos e condicionamentos; pode decidir (inserido num rol de possibilidades existenciais) fazer algo ou não fazer. O homem é dignificado pelo trabalho, portanto, quando o faz conscientemente.

  Marx nos explica o que ele chama de alienação. Alienação seria a perda de consciência por parte dos trabalhadores ao produzirem os bens de consumo na máquina capitalista. O trabalhador não teria o controle daquilo que faz, sequer saberia o que estaria à frente ou atrás na linha de produção. O trabalho perderia, então, com seus sujeitos alienados, seu teor de liberdade, e, porquanto, de dignidade; seria puro ato de repetição. O mesmo termo (alienação) pode ser empregado, por exemplo, para se referir ao sujeito que se coloca alheio às decisões políticas que correspondem a ele, negando-se a ser político atuante-questionador-consciente, tornando-se submisso às vontades daqueles que estão no poder.

  A alienação do trabalhador tira a dignidade. E é para recuperar a dignidade que a classe trabalhadora se rebela, organizada, para fazer do seu labor meio de sobrevivência, mas também de impressão de criatividade no mundo e enriquecimento (para muito além do financeiro) pessoal e social.

  O ócio produtivo (veja como é interessante este termo) seria não trabalhar, para colocar-se a contemplar, pensar, divertir-se, criar artisticamente, enfim... fazer coisas que beneficiam o homem, mas não são oficialmente trabalho. O ócio produtivo, ao ser visto segundo a ótica de que o trabalho é ação intencional e planejada no mundo, enquadrar-se-ia na categoria trabalho. Não é, obviamente, com finalidades de produção material, porém, seria uma intervenção consciente no mundo, e, assim, dignificante do homem de igual forma, ou até mais, e estaria indiretamente relacionada com a produção das condições materiais de existência.

  Outro aspecto a se elucidar é o do emprego. Não convém entender emprego como sinônimo de trabalho. O emprego é quando o trabalhador recebe para vender sua força de trabalho. Numa indústria, para tornar mais compreensível, o operário produz através de sua força de trabalho e recebe um salário (espera-se) por isso. Ou seja, ele não recebe pelos bens, mas pelo seu esforço direcionado na produção dos bens. Com isso, o empregado se difere em liberdade do trabalhador (como um artesão autônomo que tem sua oficina) por ter de se submeter ao dito do patrão. Do questionamento ao dito do patrão surgem conflitos, conflitos que movem a sociedade.

  Faço este pequeno aparato, justamente, para que, neste Dia do Trabalhador, não confundamos aquilo que se comemora com a mera distorção do mesmo pelo sistema capitalista de sociedade. Reitero, o trabalho dignifica, sim, o homem! O que tira a dignidade do homem é usurpar sua liberdade no trabalho!"

Coreaú, 01 de maio de 2012
Benedito Gomes Rodrigues

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