"O
trabalho dignifica o homem na medida em que é movido pela intencionalidade,
isto é, ao agir embasado na vontade, inteligência e criatividade. Ao contrário
dos demais seres, os homens são capazes de planejar suas ações no mundo e
dotá-las de sentido. As aranhas, para usar o exemplo de Marx, fazem com grande
maestria complexas teias, entretanto, tal ação surge do extinto e não da
vontade. Do mesmo modo, os animais também podem agir pelo condicionamento, algo
além da restrição à história filogenética (comportamentos selecionados da
espécie ao longo da evolução), através de seleção de resposta organísmica aos
estímulos ambientais, como quando um cão adestrado levanta a pata seguindo a
sugestão de seu dono, pois associa a ação com a recompensa (a comida, por
exemplo), não representando uma intervenção consciente no mundo. O homem, no
entanto, pode agir conscientemente; pode dominar, minimamente, seus extintos e
condicionamentos; pode decidir (inserido num rol de possibilidades
existenciais) fazer algo ou não fazer. O homem é dignificado pelo trabalho,
portanto, quando o faz conscientemente.
Marx
nos explica o que ele chama de alienação. Alienação seria a perda de
consciência por parte dos trabalhadores ao produzirem os bens de consumo na
máquina capitalista. O trabalhador não teria o controle daquilo que faz, sequer
saberia o que estaria à frente ou atrás na linha de produção. O trabalho
perderia, então, com seus sujeitos alienados, seu teor de liberdade, e,
porquanto, de dignidade; seria puro ato de repetição. O mesmo termo (alienação)
pode ser empregado, por exemplo, para se referir ao sujeito que se coloca
alheio às decisões políticas que correspondem a ele, negando-se a ser político
atuante-questionador-consciente, tornando-se submisso às vontades daqueles que
estão no poder.
A
alienação do trabalhador tira a dignidade. E é para recuperar a dignidade que a
classe trabalhadora se rebela, organizada, para fazer do seu labor meio de
sobrevivência, mas também de impressão de criatividade no mundo e enriquecimento
(para muito além do financeiro) pessoal e social.
O
ócio produtivo (veja como é interessante este termo) seria não trabalhar, para
colocar-se a contemplar, pensar, divertir-se, criar artisticamente, enfim... fazer
coisas que beneficiam o homem, mas não são oficialmente trabalho. O ócio produtivo,
ao ser visto segundo a ótica de que o trabalho é ação intencional e planejada
no mundo, enquadrar-se-ia na categoria trabalho. Não é, obviamente, com
finalidades de produção material, porém, seria uma intervenção consciente no
mundo, e, assim, dignificante do homem de igual forma, ou até mais, e estaria
indiretamente relacionada com a produção das condições materiais de existência.
Outro
aspecto a se elucidar é o do emprego. Não convém entender emprego como sinônimo
de trabalho. O emprego é quando o trabalhador recebe para vender sua força de
trabalho. Numa indústria, para tornar mais compreensível, o operário produz
através de sua força de trabalho e recebe um salário (espera-se) por isso. Ou
seja, ele não recebe pelos bens, mas pelo seu esforço direcionado na produção dos
bens. Com isso, o empregado se difere em liberdade do trabalhador (como um
artesão autônomo que tem sua oficina) por ter de se submeter ao dito do patrão.
Do questionamento ao dito do patrão surgem conflitos, conflitos que movem a
sociedade.
Faço
este pequeno aparato, justamente, para que, neste Dia do Trabalhador, não
confundamos aquilo que se comemora com a mera distorção do mesmo pelo sistema
capitalista de sociedade. Reitero, o trabalho dignifica, sim, o homem! O que
tira a dignidade do homem é usurpar sua liberdade no trabalho!"
Coreaú, 01 de maio de 2012
Benedito Gomes Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário