"Mataram Benedito por pregar um mundo irmão.
Morreu um lutador. E nos deixou uma lição:
'Lutar,
lutar, lutar até o fim!
Foi
este o grande exemplo
Que
o Bené deixou pra mim.' (bis)
Seu sangue derramado nos deixou uma certeza:
Que um dia, todos juntos, vamos virar esta mesa:
'Lutar,
lutar, lutar até o fim!
Foi
este o grande exemplo
Que
o Bené deixou pra mim.' (bis)
Foi ao proclamar deste
hino (de trecho acima exposto) que uma multidão emocionada entoou louvores, há
quase 26 anos, na missa de sétimo dia de Benedito Tonho, realizada na capela de
Ubaúna.
Benedito Tonho foi um
agricultor, pai de família e liderança comunitária, que residiu em Queimadas,
localidade encravada entre os municípios de Coreaú e Frecheirinha, próxima ao
distrito de Ubaúna. Vivia nas terras de seus pais, cultivando-a para o seu sustento
e de sua mulher e filhos.
Atuou reconhecidamente
como liderança da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e das CEBs (Comunidades
Eclesiais de Base). Participou do Movimento Dia do Senhor, iniciativa na
Diocese de Sobral, que visava oferecer uma formação libertadora aos leigos
camponeses, a partir de cursos e encontros onde os participantes podiam
livremente expressar e problematizar as questões por eles enfrentadas em suas
comunidades, resultando num desenvolvimento de consciência crítica. Tal
movimento pariu diversas lideranças populares em nossa região, durante seus
cerca de trinta anos de trabalho.
Encontrando-se ameaçado
pelo grileiro local de nome Luiz Mariano, Benedito Tonho se obrigou a vivenciar
uma disputa por terra, de grande destaque regional. Contou com o apoio das
comunidades e da CPT, mobilizadas em nível diocesano. Entrou na Justiça, tendo
como advogado Clodoveu Arruda (Veveu), que acompanhava juridicamente os
movimentos sociais da região naquela época.
No dia do julgamento,
com cerca de trezentas pessoas ansiosamente esperando o termo da audiência no
Fórum de Coreaú, como forma de apoio ao companheiro, obteve veredito favorável.
A terra era verdadeiramente sua.
A disputa, porém (e
infelizmente), não se encerrou com o julgamento. Enquanto trabalhava na roça,
sucumbiu perante ato de pistolagem, no dia 05 de agosto de 1986, com apenas 27
anos de idade. Credita-se o crime (autoria material) ao então conhecido pistoleiro Benedito Paiva
(vulgo Índio), como forma de vingança do grileiro.
Foi um homem de frases
marcantes, de ousadia e coragem na luta.
Ainda hoje ecoam suas frases, nos espíritos daqueles que acompanharam
seu esforço e seus sonhos. Exclamava, animoso: 'As coisas só acontecem quando a
gente faz as coisas acontecerem!'. Simbolizando sua resistência, falava: 'Morrer na luta é heroísmo! Fugir da luta é covardia!'. Ambas frases simples,
fáceis de serem compreendidas pelo povo e, por isso, portam um significado
emancipatório enorme.
Presenciei, honrado,
ano passado a missa de 25 anos de sua morte e a homenagem a ele, conferida na
frente de milhares de pessoas na 15a. Romaria da Terra, em Itapipoca.
É uma pena, realmente,
que um homem do povo como este seja rememorado (o fato) pelo nosso Ceará afora e
seja ele (Tonho) esquecido na terra em que lutou!
P.S.: Há um interesse
em se publicar uma biografia de Benedito Tonho, pelo companheiro de caminhada e
também xará, Benedito Lourenço, aqui de Coreaú. Espero poder contribuir e ver a
história do mártir documentada e publicada.
P.S.2: Desde já,
gostaria de agradecer novamente ao espaço oferecido pelo prof. João Teles,
sempre atento aos escorregões do iniciante aqui, e que tem um domínio invejável
da língua."
Coreaú, 29 de abril de 2012
Benedito Gomes Rodrigues
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