terça-feira, 1 de maio de 2012

EM MEMÓRIA E RECONHECIMENTO A BENEDITO TONHO, MÁRTIR DA CAMINHADA


  "Mataram Benedito por pregar um mundo irmão.
Morreu um lutador. E nos deixou uma lição:

'Lutar, lutar, lutar até o fim!
Foi este o grande exemplo
Que o Bené deixou pra mim.' (bis)

Seu sangue derramado nos deixou uma certeza:
Que um dia, todos juntos, vamos virar esta mesa:

'Lutar, lutar, lutar até o fim!
Foi este o grande exemplo
Que o Bené deixou pra mim.' (bis)



  Foi ao proclamar deste hino (de trecho acima exposto) que uma multidão emocionada entoou louvores, há quase 26 anos, na missa de sétimo dia de Benedito Tonho, realizada na capela de Ubaúna.
  Benedito Tonho foi um agricultor, pai de família e liderança comunitária, que residiu em Queimadas, localidade encravada entre os municípios de Coreaú e Frecheirinha, próxima ao distrito de Ubaúna. Vivia nas terras de seus pais, cultivando-a para o seu sustento e de sua mulher e filhos.
  Atuou reconhecidamente como liderança da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base). Participou do Movimento Dia do Senhor, iniciativa na Diocese de Sobral, que visava oferecer uma formação libertadora aos leigos camponeses, a partir de cursos e encontros onde os participantes podiam livremente expressar e problematizar as questões por eles enfrentadas em suas comunidades, resultando num desenvolvimento de consciência crítica. Tal movimento pariu diversas lideranças populares em nossa região, durante seus cerca de trinta anos de trabalho.
  Encontrando-se ameaçado pelo grileiro local de nome Luiz Mariano, Benedito Tonho se obrigou a vivenciar uma disputa por terra, de grande destaque regional. Contou com o apoio das comunidades e da CPT, mobilizadas em nível diocesano. Entrou na Justiça, tendo como advogado Clodoveu Arruda (Veveu), que acompanhava juridicamente os movimentos sociais da região naquela época.
  No dia do julgamento, com cerca de trezentas pessoas ansiosamente esperando o termo da audiência no Fórum de Coreaú, como forma de apoio ao companheiro, obteve veredito favorável. A terra era verdadeiramente sua.
  A disputa, porém (e infelizmente), não se encerrou com o julgamento. Enquanto trabalhava na roça, sucumbiu perante ato de pistolagem, no dia 05 de agosto de 1986, com apenas 27 anos de idade. Credita-se o crime (autoria material) ao então conhecido pistoleiro Benedito Paiva (vulgo Índio), como forma de vingança do grileiro.  
  Foi um homem de frases marcantes, de ousadia e coragem na luta.  Ainda hoje ecoam suas frases, nos espíritos daqueles que acompanharam seu esforço e seus sonhos. Exclamava, animoso: 'As coisas só acontecem quando a gente faz as coisas acontecerem!'. Simbolizando sua resistência, falava: 'Morrer na luta é heroísmo! Fugir da luta é covardia!'. Ambas frases simples, fáceis de serem compreendidas pelo povo e, por isso, portam um significado emancipatório enorme.
  Presenciei, honrado, ano passado a missa de 25 anos de sua morte e a homenagem a ele, conferida na frente de milhares de pessoas na 15a. Romaria da Terra, em Itapipoca.
  É uma pena, realmente, que um homem do povo como este seja rememorado (o fato) pelo nosso Ceará afora e seja ele (Tonho) esquecido na terra em que lutou!
   P.S.: Há um interesse em se publicar uma biografia de Benedito Tonho, pelo companheiro de caminhada e também xará, Benedito Lourenço, aqui de Coreaú. Espero poder contribuir e ver a história do mártir documentada e publicada.
  P.S.2: Desde já, gostaria de agradecer novamente ao espaço oferecido pelo prof. João Teles, sempre atento aos escorregões do iniciante aqui, e que tem um domínio invejável da língua."

Coreaú, 29 de abril de 2012

Benedito Gomes Rodrigues

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