"Em
texto recente, chamado 'Analogia Lamentável', Manfredo Oliveira (padre,
escritor, filósofo e professor cearense) lança questionamentos e angústias
acerca do forte cerceamento de mudanças socioeconômicas estruturais efetivas em
terras brasileiras, mesmo num governo encabeçado por um partido de base
popular, o PT.
Vi
uma análise de conjuntura sua (de Manfredo) faz mais de um ano, em Fortaleza, e
nela nos apresentou os altos índices de crescimento econômico no Brasil e no Nordeste.
Só que nos chamou a atenção para o seguinte: o crescimento econômico está
associado a uma também fortalecida e assustadora concentração de renda. Mesmo
com todos os projetos sociais e mudanças conquistadas na gestão Lula e agora
Dilma, segue-se uma injustiça social ainda tremenda. Os projetos sociais (como
Bolsa Família) são tão somente paliativos e emergenciais, e desde o começo já
foram pensados segundo este norte, mas o comodismo pode cristalizá-los.
Denomina-se
a política nacionalmente adotada hoje de Neodesenvolvimentismo.
Este nome é em alusão às políticas de Juscelino Kubitschek, baseadas em grandes
obras, como grandes barragens, sem preocupação com os prejuízos ambientais
resultantes, buscando dar suporte logístico à máquina do Capital emergente no
país, ao que se chamou de Desenvolvimentismo, um desenvolvimento a qualquer custo.
Notemos
os também enormes projetos do governo atualmente, ancorados no PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento), tais como usinas hidrelétricas com portes faraônicos
(como a de Belo Monte), que acarretam sérios danos ambientais e agressão às
comunidades tradicionais da região, e a transposição do Rio São Francisco, que
ameaça o rio e serve mais aos interesses dos latifundiários, ficarei nestes
dois para não tornar o texto muito grande e enfadonho. Tais megaprojetos lançam
mão de um dispêndio financeiro exorbitante, muito mais que o que é apresentado
nos orçamentos, porque nunca se gasta o previsto (se gasta mais) e servem,
sobretudo, aos interesses dos grandes. E ainda mais, ao analisar essas questões
(coisa que um texto desse tamanho nem de longe é suficiente) requer percebermos
também que esses projetos, por mais agressivos que se apresentem, são
estratégicos em termos de economia (capitalista neoliberal), pois sem energia e
água, por exemplo, futuramente corremos o risco de recessão ou apagões, com ameaça
à voracidade do monstro da produção e consumo. Resumindo, estamos numa gigante
berlinda. Trata-se de questões complicadas e que, sem dúvida, devem ser
resolvidas com o diálogo, para não agredir os pequenos que ficam no caminho
desses projetos. Os movimentos sociais, então, devem ser respeitados e
consultados.
No
período ditatorial, vimos (não eu, porque não era nascido) o princípio: crescer
o bolo, para depois parti-lo. O bolo continua crescendo, mas eu não percebo
sequer a sombra da faca para parti-lo.
Em
conversa neste último fim de semana com assessor regional das Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs) e movimentos sociais no Ceará, Júnior Aquino
(professor, escritor e também padre) nos mostrava dados que comprovam uma
diminuição drástica na pobreza absoluta do Brasil, mais especificamente no
Nordeste, entretanto, a pobreza relativa cresceu drasticamente. Isto é, temos
hoje menos pessoas em situação de miséria absoluta (do que antes), mais pessoas
na classe média, porém a distância entre os mais pobres e os mais ricos
aumentou muito. O Capital (os patrões) está muito bem satisfeito com o jeito
como as coisas andam, com lucro garantido.
Não
temos ainda projeção de Reforma Agrária, então a estrutura fundiária brasileira
vai persistir ainda por um bom tempo concentrada e injusta, uma das mais
injustas do mundo. Temos agora um retrocesso enorme representado nas mudanças
nada convenientes no Código Florestal. A matriz energética brasileira ainda é
também uma grande questão, porque a quantidade de rios adequados não é
infinita, os impactos socioambientais são consideráveis e não se pensa ainda
propostas adequadas de um sistema energético alternativo. O Brasil ainda é preso
às mãos dos bancos, embora tenhamos que comemorar nossa maior independência
conquistada em relação ao exterior (sobretudo dos USA). A taxa de juros, como
proclamou Dilma em rede nacional, é inaceitável. A dívida interna do Brasil
também é um grande monstro que precisa ser encarado, preferencialmente com
auditoria.
Sabemos
que grandes problemas não são resolvidos de uma hora para outra. No entanto, a
lentidão dos conservadores do Congresso faz com que chegue ao ridículo. É
evidente que o Brasil vem conquistando muita coisa. Porém, não caiamos num
ufanismo de vê-las como as mais perfeitas, uma vez que o governo está preso
ainda a uma estrutura política conservadora e corrompida, a começar pelo povo
(pobre) que ainda vota em patrões para descerem a lenha neles e atravancar os
processos no parlamento, enquanto que os ricos estão muito bem representados
para os seus próprios interesses.
(Benedito
Gomes Rodrigues)
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