2 de mai. de 2012

O BOLO AINDA NÃO FOI PARTIDO!


  "Em texto recente, chamado 'Analogia Lamentável', Manfredo Oliveira (padre, escritor, filósofo e professor cearense) lança questionamentos e angústias acerca do forte cerceamento de mudanças socioeconômicas estruturais efetivas em terras brasileiras, mesmo num governo encabeçado por um partido de base popular, o PT.

  Vi uma análise de conjuntura sua (de Manfredo) faz mais de um ano, em Fortaleza, e nela nos apresentou os altos índices de crescimento econômico no Brasil e no Nordeste. Só que nos chamou a atenção para o seguinte: o crescimento econômico está associado a uma também fortalecida e assustadora concentração de renda. Mesmo com todos os projetos sociais e mudanças conquistadas na gestão Lula e agora Dilma, segue-se uma injustiça social ainda tremenda. Os projetos sociais (como Bolsa Família) são tão somente paliativos e emergenciais, e desde o começo já foram pensados segundo este norte, mas o comodismo pode cristalizá-los.

  Denomina-se a política nacionalmente adotada hoje de Neodesenvolvimentismo. Este nome é em alusão às políticas de Juscelino Kubitschek, baseadas em grandes obras, como grandes barragens, sem preocupação com os prejuízos ambientais resultantes, buscando dar suporte logístico à máquina do Capital emergente no país, ao que se chamou de Desenvolvimentismo, um desenvolvimento a qualquer custo.

  Notemos os também enormes projetos do governo atualmente, ancorados no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), tais como usinas hidrelétricas com portes faraônicos (como a de Belo Monte), que acarretam sérios danos ambientais e agressão às comunidades tradicionais da região, e a transposição do Rio São Francisco, que ameaça o rio e serve mais aos interesses dos latifundiários, ficarei nestes dois para não tornar o texto muito grande e enfadonho. Tais megaprojetos lançam mão de um dispêndio financeiro exorbitante, muito mais que o que é apresentado nos orçamentos, porque nunca se gasta o previsto (se gasta mais) e servem, sobretudo, aos interesses dos grandes. E ainda mais, ao analisar essas questões (coisa que um texto desse tamanho nem de longe é suficiente) requer percebermos também que esses projetos, por mais agressivos que se apresentem, são estratégicos em termos de economia (capitalista neoliberal), pois sem energia e água, por exemplo, futuramente corremos o risco de recessão ou apagões, com ameaça à voracidade do monstro da produção e consumo. Resumindo, estamos numa gigante berlinda. Trata-se de questões complicadas e que, sem dúvida, devem ser resolvidas com o diálogo, para não agredir os pequenos que ficam no caminho desses projetos. Os movimentos sociais, então, devem ser respeitados e consultados.

  No período ditatorial, vimos (não eu, porque não era nascido) o princípio: crescer o bolo, para depois parti-lo. O bolo continua crescendo, mas eu não percebo sequer a sombra da faca para parti-lo.

  Em conversa neste último fim de semana com assessor regional das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e movimentos sociais no Ceará, Júnior Aquino (professor, escritor e também padre) nos mostrava dados que comprovam uma diminuição drástica na pobreza absoluta do Brasil, mais especificamente no Nordeste, entretanto, a pobreza relativa cresceu drasticamente. Isto é, temos hoje menos pessoas em situação de miséria absoluta (do que antes), mais pessoas na classe média, porém a distância entre os mais pobres e os mais ricos aumentou muito. O Capital (os patrões) está muito bem satisfeito com o jeito como as coisas andam, com lucro garantido.

  Não temos ainda projeção de Reforma Agrária, então a estrutura fundiária brasileira vai persistir ainda por um bom tempo concentrada e injusta, uma das mais injustas do mundo. Temos agora um retrocesso enorme representado nas mudanças nada convenientes no Código Florestal. A matriz energética brasileira ainda é também uma grande questão, porque a quantidade de rios adequados não é infinita, os impactos socioambientais são consideráveis e não se pensa ainda propostas adequadas de um sistema energético alternativo. O Brasil ainda é preso às mãos dos bancos, embora tenhamos que comemorar nossa maior independência conquistada em relação ao exterior (sobretudo dos USA). A taxa de juros, como proclamou Dilma em rede nacional, é inaceitável. A dívida interna do Brasil também é um grande monstro que precisa ser encarado, preferencialmente com auditoria.

  Sabemos que grandes problemas não são resolvidos de uma hora para outra. No entanto, a lentidão dos conservadores do Congresso faz com que chegue ao ridículo. É evidente que o Brasil vem conquistando muita coisa. Porém, não caiamos num ufanismo de vê-las como as mais perfeitas, uma vez que o governo está preso ainda a uma estrutura política conservadora e corrompida, a começar pelo povo (pobre) que ainda vota em patrões para descerem a lenha neles e atravancar os processos no parlamento, enquanto que os ricos estão muito bem representados para os seus próprios interesses.

  (Benedito Gomes Rodrigues)

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Nem o belo logradouro escapa. Triste fim de uma gestão lastimável!