29 de jun. de 2012

POR OUTRA POLÍTICA!

   "Assim como no texto precedente, inicio este com uma frase destacada, agora da 'pitada de sal' de Fernando Machado. Ele diz assim no penúltimo parágrafo de seu mais recente escrito publicado: 'Todos nós sabemos (desde o cidadão analfabeto, ao cidadão mais letrado), que não se faz hoje política (politicagem) sem a compra e venda de votos'. Vejamos atenciosamente o sentido que permeia tal afirmação. Primeiro, de grande pessimismo, uma vez que se admite que a situação não tenha como melhorar – à frente se fala que vai é piorar. Segundo, de aceitação e naturalização da corrupção.

  Um dos maiores problemas que percebo no debate político atual, em termos ideológicos, é que por se considerar a corrupção algo incontornável, que todo mundo envolvido em política necessariamente é corrupto, ficamos livres da responsabilidade de escolher com cuidado ou mesmo de fiscalizar os que já estão no poder, já que tanto faz um como outro. Cabe frisar, porém: não estou dizendo que o colega citado pense assim, apenas entrelaço comentários a respeito da afirmação em destaque.

  Recordei-me duma frase que tive o imenso prazer de degustar a pouco através de um companheiro médico do MST, de autoria do filósofo militante italiano Antônio Gramsci, mais ou menos assim: 'Tenhamos o pessimismo da razão, mas também o otimismo da vontade!'. Faço dele minhas palavras. Se a política não vem agradando, construamos outra política! Políticos somos nós, cidadãos, e quando nos excluímos do nosso dever social de escolher, bem como de propor, estamos nos desresponsabilizando e negando um senso de solidariedade (social); ser político, num sentido radical (de raiz), é decidir, através de um poder que a sociedade outorga; e, se somos baseados numa ética cristã (presume-se isso), e esta mesma ética prega o amor universal, a fraternidade, a escolha preferencial pelos pobres, ser político, nesse sentido, é lutar por benesses para os pequenos, por justiça social, por vida digna para todos, para que, enfim, um dia não tenhamos nem pequenos nem grandes. Tenho plena consciência de que tal fim é utópico, mas nossas ações são vazias sem o tempero da utopia, sendo ela a fonte dos valores éticos mais sublimes; pode não mostrar os caminhos claramente, mas aponta qual rumo se quer – se queremos o rumo do 'mesmismo' ou rumo de mudanças, que nascem de nenhuma outra fonte efetiva senão da proatividade (iniciativa) popular.

  A democracia só faz sentido se for via de mão-dupla: Estado e Sociedade, debate constante na construção de um Comum melhor. De outra forma, estamos indo na contramão de nosso dever enquanto cidadãos. Não é utopia pensar uma sociedade, desde nossa comunidade e município, onde se fiscalize efetivamente o poder público. Não é utopia ter compromisso social, deixar o receio, a preguiça, o descompromisso, o individualismo e sair à luta! Faço destas palavras um chamado, um manifesto (em última instância) em prol do bem. O bem não cai do céu! O bem só ocorre quando há alguém comprometido em fazê-lo. E digo: não há nada mais político do que praticar o bem. Mas não é qualquer política; é política em prol dos que são rejeitados.

  O nosso povo vende seu voto, fundamentalmente, por ser miserável: miserável culturalmente, economicamente, em termos de valores e civilidade! E isso é contornável. Não é algo imposto pelos céus num ato de ira de Deus (se é que um ser dito tão supremo, possa manifestar tal inconstância)! É algo que construímos, e, portanto, plenamente reversível. E não há gosto em permanecer vivo, vendo as injustiças e ineficiências da realidade social, sem a esperança e o trabalho em prol da mudança. Transformemos, através de nossa prática, de medíocres em grandiosas nossas ações, por menores que sejam através do sentido que elas têm: um sentido de compromisso e de entrega! Aí não precisaremos de discursos vazios, que em nada constroem, presos ao receio de levantar o traseiro do confortável assento da inanição."

  (Benedito Gomes Rodrigues)

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