"Num rápido giro por parte do entorno da velha Palma, testemunhei
perplexo muito lixo acumulado nas vias públicas. Monturos de lixo no
acostamento da rodovia que corta a cidade, monturo de lixo nos muros do
cemitério, monturo de lixo no leito do Rio Coreaú. A população segue
resoluta sua vida em meio a tanto lixo nas ruas, aparentando não se
incomodar com o próprio descaso, tampouco com a inércia do Poder
Público.
Testemunhei também perplexo a extrema pobreza da periferia da cidade, a
ocupação irregular do espaço urbano, o suplício impiedoso do Rio
Coreaú.
As ruas por onde andei nos meus tempos de menino vendedor de peixe
permanecem as mesmas, mais pobres e envelhecidas. A Rua do Peão, a Rua
de Baixo, a Rua dos Boeiros, a Rua do Cemitério, a Rua da Lagoa,...
Algumas novas foram abertas, outras ampliadas, mas todas igualmente
pobres e carcomidas.
No leito seco do Rio Coreaú há muito lixo, ossadas de animais mortos e
fezes humanas... O Poço do Carro resiste como poço de água esverdeada de
odor desagradável. Nada mais de água se avista num horizonte comprido
de rio.
Em meio ao passeio desolador, ainda tive a infausta notícia de uma crise
abrupta de próstata do meu velho pai. Corremos ao hospital da cidade.
Não havia médico! O atendimento do plantão ficava por conta da solícita
enfermeira, que, sem recursos, encaminhou o caso para Sobral.
Na Santa Casa de Misericórdia da terra de Dom José foram logo avisando
que não contavam com urologista, sugerindo o Hospital Dr. Estevão. Ali
meu velho foi atendido por um ginecologista (sic) e ficou internado por
algum tempo. Também não contavam com urologista. Uma hora depois de
dores intensas e descaso, conseguimos uma consulta com um especialista
numa clínica particular nas imediações.
O atendimento célere e simpático do especialista contrastava
demasiadamente com o da rede do SUS. Sugeriu que retornássemos à Santa
Casa. Havia a necessidade de uma intervenção cirúrgica de emergência
para o esvaziamento da bexiga.
Fomos alertados da possível demora, mas assim não imaginávamos o quanto
padecia a população pobre da Zona Norte do Estado do Estado do Ceará no
serviço de saúde da cidade, que se ufana da excelência de suas últimas
administrações municipais.
Há decerto grande demanda, mas com um único médico atendendo a emergência, não há corredores para suportar tantas macas...
Depois de horas de dores e indiferença, encaminharam o paciente para a
cirurgia, na manhã seguinte avisaram que a tinham realizado.
É hora de retornar para o urologista..."
(Eliton Meneses, do Diário de um Navegante)
Nenhum comentário:
Postar um comentário