24 de jul. de 2012

O LIXO FORA DA LATA




   "Num rápido giro por parte do entorno da velha Palma, testemunhei perplexo muito lixo acumulado nas vias públicas. Monturos de lixo no acostamento da rodovia que corta a cidade, monturo de lixo nos muros do cemitério, monturo de lixo no leito do Rio Coreaú. A população segue resoluta sua vida em meio a tanto lixo nas ruas, aparentando não se incomodar com o próprio descaso, tampouco com a inércia do Poder Público.
   Testemunhei também perplexo a extrema pobreza da periferia da cidade, a ocupação irregular do espaço urbano, o suplício impiedoso do Rio Coreaú. 
   As ruas por onde andei nos meus tempos de menino vendedor de peixe permanecem as mesmas, mais pobres e envelhecidas. A Rua do Peão, a Rua de Baixo, a Rua dos Boeiros, a Rua do Cemitério, a Rua da Lagoa,... Algumas novas foram abertas, outras ampliadas, mas todas igualmente pobres e carcomidas.    
   No leito seco do Rio Coreaú há muito lixo, ossadas de animais mortos e fezes humanas... O Poço do Carro resiste como poço de água esverdeada de odor desagradável. Nada mais de água se avista num horizonte comprido de rio.
   Em meio ao passeio desolador, ainda tive a infausta notícia de uma crise abrupta de próstata do meu velho pai. Corremos ao hospital da cidade. Não havia médico! O atendimento do plantão ficava por conta da solícita enfermeira, que, sem recursos, encaminhou o caso para Sobral.    
   Na Santa Casa de Misericórdia da terra de Dom José foram logo avisando que não contavam com urologista, sugerindo o Hospital Dr. Estevão. Ali meu velho foi atendido por um ginecologista (sic) e ficou internado por algum tempo. Também não contavam com urologista. Uma hora depois de dores intensas e descaso, conseguimos uma consulta com um especialista numa clínica particular nas imediações.
   O atendimento célere e simpático do especialista contrastava demasiadamente com o da rede do SUS. Sugeriu que retornássemos à Santa Casa. Havia a necessidade de uma intervenção cirúrgica de emergência para o esvaziamento da bexiga. 
   Fomos alertados da possível demora, mas assim não imaginávamos o quanto padecia a população pobre da Zona Norte do Estado do Estado do Ceará no serviço de saúde da cidade, que se ufana da excelência de suas últimas administrações municipais. 
   Há decerto grande demanda, mas com um único médico atendendo a emergência, não há corredores para suportar tantas macas... 
  Depois de horas de dores e indiferença, encaminharam o paciente para a cirurgia, na manhã seguinte avisaram que a tinham realizado. 
   É hora de retornar para o urologista..."

  (Eliton Meneses, do Diário de um Navegante)

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Nem o belo logradouro escapa. Triste fim de uma gestão lastimável!