"(...) Num
primeiro momento, as delícias do texto encontram-se na fala do
professor. Usando uma sugestão de Melanie Klein, o professor, no ato de
ler para os seus alunos, é o 'seio bom', o mediador que liga o aluno ao
prazer do texto. Confesso nunca ter tido prazer algum em aulas de
gramática ou de análise sintática. Não foi nelas que aprendi as
delícias da literatura. Mas lembro-me com alegria das aulas de leitura.
Na verdade, não eram aulas. Eram concertos. A professora lia,
interpretava o texto, e nós ouvíamos, extasiados. Ninguém falava.
Antes de ler Monteiro Lobato, eu ouvi-o. E o bom era que não havia exames sobre aquelas aulas. Era prazer puro. Existe uma incompatibilidade total entre a experiência prazerosa da leitura – experiência vagabunda! – e a experiência de ler a fim de responder a questionários de interpretação e compreensão. Era sempre uma tristeza quando a professora fechava o livro... (...)."
RUBEM ALVES
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