Em decorrência da transição da cultura escrita para a cultura digital,
acontece, na atualidade, aquela que é considerada a mais radical
transformação na história da inteligência da Humanidade. Ao oferecer uma
experiência visual e de manejo completamente diversa dos livros
convencionais, a forma digital de ler causa, em paralelo, mudanças no
conteúdo daquilo que é transcrito através da informática. Segundo
estudiosos da história cultural através dos tempos, está sendo
desenvolvida uma forma de relação com a palavra escrita, causadora de
indiscutíveis impactos na mente humana.
Em vários países, os
livros digitais já são mais vendidos do que os impressos em papel. Só
para citar um exemplo, o livro online "Cinquenta Tons de Cinza", de E.L.
James, vendeu na Inglaterra mais de dois milhões de exemplares, em
apenas quatro meses. Desde que foi criado o alfabeto, ocasionando
modificação no entendimento das palavras e dos conceitos, o mundo não
presenciava um impacto cognitivo de tamanho poder de cooptação e de tão
abrangente relevância. Alguns pesquisadores chegam a assegurar que, em
futuro próximo, a leitura solitária poderá vir a ser substituída por uma
atividade comunitária eletronicamente interligada, que ganhou, desde
já, a denominação de "leitura e escrita sociais". Contribui também, para
a crescente popularidade da literatura digitalizada, o surgimento dos
chamados "livros enriquecidos", que trazem desde trilha sonora a vídeos e
fotografias, acionados automaticamente. A presente revolução vem
caminhando tão além do inicialmente esperado que até os segredos
pessoais da leitura, anteriormente restritos às mentes dos leitores,
agora podem ser detectados pelas editoras, as quais sabem quantas
páginas foram lidas, o tempo gasto pelos leitores e até seus títulos
preferidos.
Através dessa pesquisa, observa-se que livros de não
ficção são lidos de modo intermitente e que leitores de novelas
policiais consomem essas obras mais rapidamente do que os apreciadores
de outros tipos de ficção literária. São dados que contribuem para levar
ao conhecimento das editoras as reais preferências do público. Adeptos
do "politicamente correto" já organizaram, nos Estados Unidos, um
movimento de proteção à privacidade do leitor, com o objetivo de
disciplinar até que ponto as editoras podem ir, em sua voracidade de
obter dados para suprir-lhes exigências mercadológicas. Segundo os
opositores da escrita online, esta teria efeitos maléficos na área
cultural, representando "o próprio portal da ignorância" e verdadeira
catástrofe para quem valoriza a clareza e a precisão de estilo, além de
prejudicar o hábito tradicional das boas leituras.
Os adeptos do
mundo literário digital tenderiam a perder a habilidade de manter
contato, ou tentar escrever, uma prosa coerente e bem estruturada. Na
área da neurologia, investiga-se se a tendência à desatenção causada
pela internet seria capaz de afetar a construção e preservação dos
próprios circuitos neuronais. Apesar dos receios, já está claro que o
cérebro possui mecanismos de compensação para tais perdas.
Procede
da década passada a preocupação com a qualidade da leitura, até pela
falta de concentração causada pelos aparelhos eletrônicos. O maior temor
é que o universo digital roube às pessoas a capacidade intelectual da
leitura atenta e profunda, que o filósofo Walter Benjamim chamava de
"silêncio exigente do livro", impossibilitado pelo caráter
circunstancial dos meios digitalizados.
UM ESPAÇO PARA LIVROS, CULTURA NORDESTINA E FÓRUM DA ZONA NORTE (CE). (85) 985863910
Assinar:
Postar comentários (Atom)
30
AV. BEIRA MAR NO ABANDONO
Nem o belo logradouro escapa. Triste fim de uma gestão lastimável!
-
No Araquém dos meus tempos de calças curtas residia o senhor Meton Cardoso. Caladão, trabalhador, monossilábico. Passava os dias nas suas ...
-
"A medicina nos USA é muito cara. São centenas e centenas que norte-americanos que vão se tratar em Cuba.Tenho 3 sobrinhos médicos que...
Nenhum comentário:
Postar um comentário