quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

REMEMORAÇÕES ARAQUENHENSES

   Boas lembranças de quando criança

   Na manhã do último domingo (09) estava eu a passar em frente à igreja de nosso distrito quando me deparei com um cheiro agradável, que só é possível sentir uma vez a cada ano. É, confesso a você que fiquei com “água na boca” e com uma vontade imensa de degustar a causa daquele cheiro indescritível.

  Esta situação me fez lembrar do tempo em que eu era criança, quando pegava algumas latas de óleo ou de querosene, escolhia a melhor e começava abri-la com o auxílio de uma faca, deixando-a no formato de uma forma de bolo retangular. Para que o objeto que eu colocasse dentro da mesma não transbordasse, eu dobrava suas margens com os dedos já pelados. Muitas vezes me cortava e o líquido vermelho começava a jorrar. Sendo necessário, mas com uma raiva imensa da danada daquela lata, começava a perfurá-la sem dó nem piedade; quando a faca transpassava o seu corpo ainda tinha a ousadia de torcê-la, aumentando o tamanho do corte. Após fazer a transformação na lata, ia até a mata ao lado de minha casa à procura de lenha, para fazer uma fogueira. Na maioria das vezes encontrava; mas quando isso não acontecia, com bastante atenção, pegava algumas madeiras que compunham a cerca de meu quintal, era difícil, mas quando meu pai me pegava praticando tal ação não estava descartada a possibilidade de uns bons açoites. Pra falar a verdade, era merecido.

  Para compor a fogueira eu pegava quatro tijolos, ficavam dois no lado esquerdo, a madeira no meio e mais dois no lado direito.
Depois de modificar a lata e construir a fogueira, me dirigia até um quarto onde se encontravam alguns mantimentos adquiridos em anos anteriores, sendo a maioria deles arroz, feijão e milho. No meio da bagunça, procurava um saco de bombom recheado de certas preciosidades, que iria utilizar em meu feito. As ditas-cujas não eram fáceis de serem encontradas e quando descobertas era preciso um longo trabalho para retirá-las do ventre de sua mãe e, posteriormente, fazer uma “cirurgia” para separar cada uma delas de seu irmão, como se estivesse separando irmãos siameses.

  Após pegar minhas preciosidades, colocava fogo na lenha e posteriormente a lata sobre os tijolos. Depois, pegava as preciosidades e as jogava dentro da lata com o intuito de lapidá-las. Para evitar que elas queimassem apenas de um lado, utilizava uma vara grande para mexê-las. Com isso, evitava-se também que elas pudessem me atingir com o seu veneno feroz. Por sorte, nunca conseguiram me ferir.

  No começo as chamas sentem receio de queimá-las, mas com algum tempo depois o fogo começa a destruí-las, cobrindo todas elas com uma enorme chama e fumaça. No interior de todas elas vem um cheiro adorável, igualmente ao cheiro descrito no começo deste relato.

  Quando o fogo e a fumaça começam a cobri-las e o cheiro começa a surgir, é sinal de que as preciosidades já estão no ponto de serem retiradas. Com o auxílio da vara, tirava a lata juntamente com o seu conteúdo de cima da fogueira. Depois que pegam fogo as preciosidades dão um enorme trabalho para serem apagadas. É como se estivesse sendo alimentadas por algum combustível. Utilizando terra ou água, elas nunca conseguiram me vencer.


 Depois de todas as preciosidades passarem por esse processo eu pegava um pequeno pedaço de pau e começava a quebrá-las, para que assim eu pudesse tirar o conteúdo de seu interior o que me interessava. Como num cofre difícil de ser rompido, ainda faltava uma camada para eu abrir. Mas esta era a mais fácil. Terminado, agora era só apreciar o resultado de meu longo trabalho.

  Lembro-me como se fosse hoje! Eu pegava uma bacia e colocava todas as castanhas do meu desejo dentro, depois abria a televisão e, assistindo, começava a comê-las. Às vezes, juntamente com minha família.

  Ah, que tempos bons! Hoje, não vejo a hora de abocanhar mais centenas de castanhas. 

Por Hélio Costa

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