Com todo respeito aos pais adeptos desse modelo educacional, penso, como profissional da educação, que se deveria, a priori,
procurar entender melhor e reconhecer o papel da escola, como
instituição que transcende a mera transmissão de conhecimentos. Ora, é
no ambiente escolar que a criança dá início ao seu processo de
desenvolvimento social, aprende a conviver com o diferente, compreende e
assimila regras de conduta para viver em sociedade, etc. Um pouco
distante dos olhos paternos e maternos, a criança aprende a lidar com
conflitos, adquire independência, supera os medos, enfim, quanto mais a
criança conviver com o pluralismo, com estímulos externos, mais se
socializará, convivendo, assim, em harmonia com o diferente. A eficácia
dessa análise já fora comprovada há anos pelo filósofo e psicólogo da
educação Vigostki.
Noutra reportagem postada no página de vídeos Youtube, uma mãe que
pratica a educação domiciliar com seus filhos afirma, com muito
entusiasmo, que o motivo da retirada do filho de 08 anos da escola foi o
fato de o menino não gostar de português, especialmente das aulas de
pronome de tratamento. Segundo o menino, todos nós devemos ter o mesmo
tratamento, pois somos iguais uns aos outros. Assim, não precisaríamos
chamar um papa de Vossa Santidade, nem um médico ou advogado de doutor. É
importante frisar que, para os adeptos da homeschooling, as
disciplinas utilizadas pelos professores em sala restringem-se a mero
acúmulo desnecessário de informações, que nada contribuem na vida
prática. No entanto, os currículos escolares são elaborados por
profissionais capacitados, neles se incluem disciplinas utilizadas não
somente para transmitir informações e contribuir para o ingresso na
faculdade, como também para os educandos absorverem uma visão do outro,
podendo, desse modo, interagir e também contestar. Logo, os pais adeptos
da homeschooling parecem contradizer-se, pois utilizam, em
regra, as mesmas disciplinas escolares para ensinar seus filhos.
Concernente ao uso dos pronomes de tratamento, é necessário sim
atribuirmos tratamento diferencial para determinadas pessoas, pois não
vivemos em guetos e sim numa sociedade em que há regras de conduta
social, de comportamento, educação perante os demais. Também temos que
ter humildade de reconhecer o valor profissional do outro, como também
respeitá-lo. Além do mais, a maioria desses pais (professores) não tem
formação teórica e técnica para suprir todas as disciplinas repassadas
aos filhos, diferentemente da escola, onde há profissionais capacitados,
com anos de estudo para esse propósito.
Diante das informações expostas, pode-se afirmar que precisamos sim
melhorar a educação, e não simplesmente tentar abolir a escola. Temos
algumas escolas públicas e privadas ruins, como também algumas outras de
qualidade. É necessário rever e refletir, sobre os currículos
escolares, procurar sempre aperfeiçoá-los, reduzindo umas disciplinas,
acrescentando outras. Os PPPs (Projetos Políticos Pedagógicos)
identificadores das instituições de ensino precisam ser realmente postos
em prática, o profissional em educação também precisa ser valorizado, tanto pelo Estado, como pela comunidade. Agora, é preciso deixar claro
que a construção de uma nação necessita da participação de toda a
sociedade – a família é muito restrita para tanto. Acredito que, se for
legalizada e adotada a educação familiar no Brasil, o desenvolvimento de
muitas crianças inocentes correrá sério risco, em virtude do
individualismo extremo de alguns pais e, como sociedade, ao invés de
seguirmos em frente, entraremos num retrocesso."
Auricélia Fontenele
Prof.ª de Português, no Blogue Diário de Um Navegante
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