"(...) Há relatos sobre problemas provocados pelas secas desde os mais
remotos documentos sobre o território hoje chamado de Ceará. No livro
Uma Nova História do Ceará (Edições Demócrito Rocha, 2007), Frederico de
Castro Neves relata a transferência periódica de tribos indígenas, em
busca de áreas mais úmidas. A falta de chuvas é também a razão mais
comumente apontada para o fracasso daquela que, para alguns, foi a
primeira atividade econômica de relevância no Ceará – as charqueadas,
sobretudo em Aracati, principal núcleo urbano do período. Atribui-se ao
produtor de carne aracatiense José Pinto Martins a introdução do charque
no Rio Grande do Sul, após migrar devido à seca de 1777. Mesmo o
algodão, cultura adaptada ao semiárido, sofreu com a seca cem anos mais
tarde. É impressionante como, passados tantos séculos, com tanto
dinheiro gasto e com tantos prejuízos, que vão muito além do financeiro, o
homem do campo ainda dependa das orações para seu padroeiro, enquanto
água é racionada em alguns municípios. É o fracasso e a vergonha dos
sucessivos governantes que já comandaram o Ceará ao longo dos séculos.
Afinal, a 'adversidade natural só se transforma em flagelo social quando
as condições sociais, políticas e econômicas o favorecem', diz o
professor Luís Celestino de França Júnior, em artigo no livro Bonito Pra Chover (Edições Demócrito Rocha, 2003).
É fato que os
diversos ciclos fizeram da miséria ferramenta para manutenção do poder.
Nem falo de uma maldade congênita, na qual deliberadamente se nega
soluções para lucrar politicamente. Basta a junção da incompetência e
incapacidade para encontrar soluções estruturais, somada à conveniência
dos paliativos, por meio da caridade. Diz-se que dom Pedro II prometeu
vender até a 'última joia da coroa' para que os nordestinos não
morressem mais de sede. Se o tivesse feito – e, claro, que não o fez – o
dinheiro provavelmente teria ido para os similares da época das cestas
básicas, carros-pipa e frentes de serviço. E o sertanejo continuaria a
padecer com o flagelo. (...)."
(Érico Firmo, no O Povo)
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