A TURMA DO FREI BEL
Opinião - Jornal O POVO, 07/12/13
Ei, macho! Cadê tu? Soube que te localizaram em Porto Alegre. Meio maluco beleza. Meio não sei como... Queríamos te convidar para a nossa festa. Ficamos mais ricos ou mais bestas e por conta, estamos reunidos num resort no fim de semana.
Quarenta anos de formados! Muita bebida e alegria. Cabelos grisalhos. Nem guardamos o vil metal. Fizemos tudo o que fizemos, mas ainda somos os mesmos.
Vem, cara! Vai ser superlegal. Tu vais encontrar as meninas mais senhoras. Algumas, até avós. E o tempo virou um retrato na parede da memória. Alguns vão contar o sucesso que fizeram. As peripécias que a vida armou. Mas sempre tem um que volta ao passado. Contará aquelas piadas de debaixo das mangueiras. Das passeadas e assembleias. O acampamento dos excedentes. As greves nos jardins da Reitoria.
Depois, foi a grande diáspora. Tu caíste fora bem antes. Foi ser cantor pelo Sul Maravilha. Que alegria a gente festejando tuas aparições no Flávio Cavalcanti. Teus primeiros passos do sucesso. E os outros, nós todos, sendo plantonistas nos hospitais que a vida foi
nos reservando.
Agora, a maioria está aposentada. Ficamos idosos. Somos idosos. Mas – coisa estranha! – ainda pulsa um coração juvenil em cada mente que nos move.
Que curioso, nós mesmos achamos que o mundo mudou. De vez e demais. Foi tudo muito rápido e aqueles jovens que saíam “dedos em v e cabelos ao vento” hoje parecemos medrosos e a violência nos assusta.
Pô, como seria sensacional teu violão debaixo do braço e um show privé que teríamos de tuas novas e inéditas canções.
Não, Belchior. Não se assunte. Podes vir. Aqui encontrarás a mesma inocência de teus fraternos colegas. Aqui abriremos um velho Bordeaux e comemoraremos unicamente o fato de ainda estarmos vivos e sermos eternos amigos.
Vem, cara! Vai ser legal. A rapaziada continua generosa e companheira. O tempo não nos estragou. Pois o coração ainda está firme na amizade.
Mais tarde, quando a madrugada for se despedindo, correremos em busca da praia, onde mandaremos nossas mágoas pras águas fundas do mar.
(Antônio Mourão Cavalcante, médico psiquiatra e antropólogo)
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