MARANGUAPE
Chico Anysio
"Os pendões verdes da
cana balançavam só pra mim. E eu ia pelo caminho feito de tantas pisadas, com
medo de uma cigana que ali disse que o meu fim era triste. Era eu sozinho sem
amor, sem camaradas. No fim do canavial nascia a praça da igreja onde aos
domingos se ouvia os sermões contra os horrores. A voz do bem contra o mal, pedindo a Deus que proteja com sua sabedoria a nós, pobres pecadores. Mais
adiante e para o lado surgia a enorme praça onde os homens caminhavam no
inverso das donzelas, o que era achado um pecado por uns; pra outros uma graça
e namorados se formavam para alegria de eles e elas. Um cinema se acabando, na
esquina o Bar Sinfrônio, uma lojinha, uma padaria e nada que eu lembre mais.
Sessenta anos passando não mudou o patrimônio e Maranguape é hoje em dia o que
era a um tempo atrás. Mas eu quero minha cidade. Assim como foi e está: o que o
povo deseja é que tudo funcione. Senhor prefeito, a verdade é esta e não mudará:
Tudo certo, é o que se almeja. E progresso, nem mencione. Maranguape é uma
saudade. Que queremos manter viva. E vivendo dentro dela. Morando na sua alma. Eu
nasci nesta cidade. Que é só de nós, é exclusiva. É quando olhamos pra ela que
nossa vida se acalma. Maranguape é uma saudade. Que se pode visitar. E é isto, a
felicidade. Que eu desejo conservar."
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