domingo, 5 de janeiro de 2014

SOBRE UM VELHO AMIGO

  Conheci um velho cambista depois que cheguei por aqui. Vascaíno de quatro costados (ninguém é perfeito!). Teve vida folgada no Rio. Bebeu na fonte de Noel. Quando a gente titubeava numa resposta, ele entrava: - Palpite infeliz. Se era convidado para um rala-coxa, perguntava: - Com que roupa eu vou? Se alguém falava bobagem, o velho boêmio indagava: - Quem é você que não sabe o que diz? Louco por Noel Rosa! José (nome fictício) só tinha a água da torneira na vida. E bom gosto musical nos ouvidos. Vivia com uma ex-puta. Quando chegava do trabalho, geralmente bêbado, era pilhado e maltratado. Bêbado, não estava pra nada. A família (desonesta) fazia o que queria com ele. Ouvi deles ricos relatos sobre Francisco Alves, o rei da voz, Nelson Gonçalves e Noel Rosa, o gênio das letras. Quando eu tocava no nome de Nelson Gonçalves (que estava mais perto do meu mundo), ele repetia: - Nelson é Nelson! O meu velho amigo, acariocado e bom de papo, já se foi. Homem do povo. Equivocado. Mal casado. Vivia de um passado de glórias, putas, bares e Maracanã. Não está mais entre nós. Se aqui estivesse já teria chegado à conclusão de que as grandes vozes da música estão indo embora e que a ruindade já botou banca e faz escola. Pra desgraça das nossas oiças...

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