Os narradores carregavam nas
tintas. Falavam horrores sobre eles. Que mordiam o que viam pela frente, que
babavam, rangiam dentes, destroçavam criações. Se pegassem crianças... nem
pensar! As histórias corriam as sete paróquias, assombravam meio mundo de
gente, deixavam meninos ao redor das mães, agarrados às saias, chorosos, com
medo de tudo que viam mexer-se. As
narrativas só aumentavam, falavam de coisas terríveis, de acontecimentos nunca
antes vistos em lugar nenhum. Os dias já não eram os mesmos, as
brincadeiras tinham perdido a graça, os namoricos o encanto. Agora só importava
ficar quase enterrado no chão, perto de casa, para ouvir mais uma e mais uma história.
Falavam que já circulavam os romances de literatura de cordel contando todas as
histórias. As capas eram descritas com xilogravuras horrorosas, em tinta preta
e temível. A meninada andava borrando as
calças... E tome histórias, que chegavam às pampas, de lugares distantes e
desconhecidos. Lá, diziam, é que a coisa
é braba! Como sair de casa daquele jeito? Como ganhar o mundo ou pelos menos ir à esquina jogar com castanhas de caju ou brincar de encangar boinhos de cipó
e paulistas? Difíceis tempos em que o medo era maior, bem maior, a cada minuto
que o tempo avançava e as histórias esticavam...
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