"Em História, há disputas de memórias. Ficar
procurando quem foi mais 'herói' ou 'bandido' é andar em círculos - e, não
raro, sensacionalismo para vender livro, como fazem por aí uns tais guias
politicamente incorreto. Os historiadores estão mais interessados em entender
as construções dessas memórias e os porquês delas; o que se vinculam a classes,
grupos, ideologias, gêneros, etnias, etc. Os processos
têm méritos, sim, mas eles são ligados às conjunturas e valores dos grupos, que
estão mudando. No colégio, quando eu estudava, aprendia que Domingos Jorge
Velho era um herói. Hoje, valoriza-se Zumbi, porque, com a exaltação da
democracia, da força
do movimento negro, etc., a história de Palmares foi valorizada. Então, a
história é filha de seu tempo - agora, não se pode é cair em anacronismos e
deve-se ser honesto e ético. Em Palmares havia, ao que parece, escravidão. Isso
não é demérito. Havia escravidão já na África. Pessoas viam com normal ter
escravo, inclusive ex-escravos. Então, eu tenho que entender Palmares no século
XVI e saber que há muitos usos por parte da História, conforme os grupos
sociais, ideologias, etc. Nós nunca aprendemos tudo, como de fato foi - podemos
até chegar perto. E levamos para a análise do passado muito do presente. Deve o
historiador ser ético e competente, para pesquisar e entender esses usos de
memórias e limites da pesquisa".
(Airton de
Farias, tecendo comentários sobre os regimes capitalista e socialista)
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