“(...)
Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes - Até os anos 1920, não existia essa noção (de Nordeste). Isso
começa na seca de 1919, quando São Paulo estava montando, desde o início do
século, a sua hegemonia sobre o resto do País. A maior cidade e o maior acervo
cultural do Brasil era a Corte, o Rio de Janeiro. A partir de 1900, os
paulistas criam um neobandeirantismo. Daí em diante, isso começa a se
estruturar como ideologia.
A eles se juntou
Gilberto (Freyre), que, por sua vaidade, inventa, em 1925, uns simpósios muito
reacionários. Gilberto era um mentiroso emérito (risos), mas de um talento
extraordinário e de uma cultura monumental, porque passou sua vida lendo
(risos). Em 1925, Gilberto publica uma edição do centenário do Diário de
Pernambuco, sobre o Nordeste, porque ele queria impor o predomínio de
Pernambuco. Quer dizer, há uma construção ideológica e política dessas noções.
Depois, os dispositivos dominantes estabeleceram o novo perfil e nos tornarmos
nordestinados.
OP -
Essa geração tinha uma missão, que era interpretar o Brasil. Qual é o papel do
intelectual hoje?
Eduardo Diatahy - Todos eles, Caio Prado Jr., Sérgio Buarque, Gilberto Freyre –
toda essa geração é herdeira do que o Capistrano de Abreu construiu. Foi
Capistrano que deu as bases. Essa geração se abeberou disso para produzir suas
interpretações... O Antonio Candido chamou a atenção: pela primeira vez, começa
a surgir a consciência de que o nosso atraso não provinha de determinismo
geográfico nem de clima tropical ou raça inferior. Surgia a consciência de que
o nosso atraso era de nosso subdesenvolvimento. A geração de Capistrano, no
Ceará dos anos 1872 -1875, pensou o Brasil. Todos seus grandes nomes tinham de
17 a 19 anos e fizeram uma revolução mental na Província e que se estendeu
depois para a Corte (Rio). E o papel do intelectual hoje é o de sempre:
interpretar a realidade e narrar sua experiência para se contrapor às forças do
esquecimento. (...).”
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