3 de dez. de 2015

OPINIÃO

  "Nasci em 1976. Não peguei os anos de chumbo da ditadura cívico-militar. Não tenho a medida do que é viver num estado de excessão. Acompanhei, com uma curiosidade um pouco acima da média para uma criança de 8 anos, o movimento das Diretas, Já!. Lembro de minha mãe dizendo 'vamos contar, pela cor da gravata' quem é a favor da emenda Dante de Oliveira (nunca esqueci esse nome). Cresci numa família de trabalhadores. Não tínhamos posses, mas nunca nos faltou comida e dignidade. Cresci ouvindo dizer que é preciso criar oportunidades iguais para todos. Por isso, aos 13 anos, vibrava com minha mãe votando em Lula e no PT. E foi assim todas as eleições em que ele se candidatou. Também lembro muito da eleição da Maria Luiza. Nossa casa era a única no bairro com a foto dela pregada na parede. Vivi sempre a democracia dentro da minha família. Sim, tenho parentes que não pensam e nem votam nos mesmos candidatos (que eu). Tem coisa mais divertida que, num almoço de domingo na casa da mãe, falar de política e 'brigar' pelo seu candidato e seu ponto de vista? Talvez por essa salutar referência de respeito às divergências, me choque tanto com a crise política instaurada no Brasil. Fico indignada com o presidente da Câmara dos Deputados instaurando pedido de impeachment de uma presidente legitimamente eleita e sem qualquer indício de favorecimento ou distrato da máquina pública. O povo brasileiro quer abrir mão da democracia? Uma coisa é não concordar com a política econômica do governo. Passamos 12 anos de neoliberalismo. Sabemos como o filme termina. Também não devemos varrer para debaixo do tapete a corrupção. Sim, ela existe no PT - o maior erro do partido foi praticar o que criticava. Mas a democracia é uma conquista que não deve ser posta à prova por aventureiros, abutres, achacadores. Por isso, faço coro e vou às ruas!"
  SAMIRA DE CASTRO, jornalista cearense

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