DO LIVRO "PROFESSORA SIM, TIA NÃO":
"Forte tendência nossa é a que nos empurra no sentido de afirmar que o diferente de nós é inferior. Partimos de que a nossa forma de estar sendo não é apenas boa mas é melhor do que a dos outros, diferentes de nós. A intolerância é isso. É o gosto irresistível de se opor às diferenças. A classe dominante, porém, devido a seu próprio poder de perfilar a classe dominada, primeiro, recusa a diferença mas, segundo, não pretende ficar igual ao diferente; terceiro, não tem a intenção de que o diferente fique igual a ela. O que ela pretende é, mantendo a diferença e guardando a distância, admitir e enfatizar na prática, a inferioridade dos dominados.
Um dos desafios aos educadores e às educadoras progressistas, em coerência com sua opção é não se sentirem nem procederem como se fossem seres inferiores a educandos das classes dominantes da rede privada que, arrogantes, destratam e menosprezam o professor de classe média. Mas também, em oposição, não se sentirem superiores, na rede pública, aos educandos das favelas, aos meninos e às meninas populares; aos meninos sem conforto, que não comem bem, que não 'vestem bonito', que não 'falam certo', que falam com outra sintaxe, com outra semântica e outra prosódia. O que se coloca à educadora progressista, coerente, nos dois casos não é, no primeiro, assumir uma posição agressiva de quem puramente revida e, no segundo, deixar-se tentar pela hipótese de que as crianças, pobrezinhas, são naturalmente incapazes. Nem uma posição de revanche nem de submissão no primeiro caso, mas a de quem assume sua responsável autoridade de educadora, nem, no segundo caso, um atitude paternalista ou depreciadora das crianças populares.
O ponto de partida para esta prática compreensiva é saber, é estar convencida de que a educação é uma prática política. Daí, repetirmos, a educadora é política. Em conseqüência, é imperioso que a educadora seja coerente com sua opção, que é política. Em continuação, que a educadora seja cada vez mais competente cientificamente o que a faz saber o quanto é importante conhecer o mundo concreto em que seus alunos vivem. A cultura em que se acha em ação sua linguagem, sua sintaxe, sua semântica, sua prosódia, em que se vêm formando certos hábitos, certos gostos, certas crenças, certos medos, certos desejos não necessariamente facilmente aceitos no mundo concreto da professora."
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