domingo, 20 de novembro de 2016

NA HISTÓRIA

De Airton de Farias
"Há uma historiografia que vem revendo a escravidão negra. Os africanos vieram (cerca de 4 milhões) não porque aqui tivesse escravidão, mas vieram para ter escravidão. Os lucros do tráfico para a Coroa, comerciantes metropolitanos e coloniais eram consideráveis. Portugal montou um grande empreendimento, rentável, com a América portuguesa produzindo cana e a África fornecendo mão de obra. A escravidão é uma instituição antiga. A Bíblia e o Alcorão aceitavam-na. Povos de diferentes crenças apoiavam e justificavam a prática. Na Colônia havia até um imaginário de Deus escravista. Santo Antônio era o Santo ao qual os senhores apelaram para reaver negros fugidos. Na África já havia escravidão. Em geral, eram os chefes africanos que trocavam os cativos com os europeus, por armas e cavalos especialmente. A escravidão era tão forte, social e culturalmente, que era vista como normal, inclusive pelos próprios escravos. Estes buscavam a liberdade mas não lutavam contra a escravidão enquanto sistema . Isso ao lado da tradição escravista africana ajudam a entender por que possivelmente houve escravidão no famoso quilombo de Palmares. Tal constatação de modo algum diminui a importância do quilombo ou de Zumbi. Apenas mostra mais uma vez como história é complexa (cuidado com anacronismos) e como foi difícil a luta contra a escravidão.
Com a independência, aumentou ainda mais a escravidão no Brasil. Os mais ricos homens do Império eram traficantes de escravos. O Brasil livre baseou-se na escravidão.
Este 20 de novembro fala hoje muito mais do presente que do passado. A conscientização da herança africana e da tragédia que foi a escravidão e que é o racismo.
Foi a partir do século XVIII, com o iluminismo e abolicionismo, que se expandiu a condenação da escravidão . O Brasil seria um dos últimos a acabar com a escravidão. Havia vários outros projetos de abolição, inclusive com indenização aos escravos. Prevaleceu um projeto conservador. Aboliu-se a escravidão e abandonou-se o ex-cativo, agravando a questão social. Nesses sentido, por mais que as cotas hoje não sejam perfeitas, são um mecanismo para buscar diminuir as distorções de nosso passado.
Uma das melhores e mais atuais abordagens sobre escravidão está no livro O trato dos viventes, de Felipe Alencastro."

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