29 de mai. de 2018

ANÁLISE

"O governo Temer já acabou, a questão é saber se terminará o mandato e se vale a pena fazer força para que ele caia. Está claro que a greve dos caminhoneiros está sendo usada por grupos que desejam a intervenção militar. Certo que a greve é mais ampla, mas não há dúvida também da sua manipulação por grupos radicais da direita. Além das faixas e das falas de algumas lideranças dos caminhoneiros, que desejam esticar a paralisação para derrubar o governo Temer, também chama a atenção a tentativa ontem de organizar protestos nas grandes cidades em favor da intervenção militar. É uma manobra clássica, que faz eco a 1964: criar a sensação de caos e chamar os militares à ação, tentando mostrar que é o desejo da sociedade legitimando o golpe. O movimento é pequeno ainda, mas já conseguiu colocar na pauta a possibilidade de intervenção, que teria o apoio (ou aceitação passiva) de larga parcela da população. Os grandes chefes militares não parecem animados com a proposta e nem Bolsonaro, a julgar por suas últimas declarações (ele deve saber que em caso de golpe o chefe vai ser um general e não um capitão...). Falta também o apoio da grande mídia, ao que parece. Porém, se a sensação de crise e falta de governo se aprofundar, quem pode garantir o rumo das coisas?
Apoiar a queda de Temer neste momento é temerário (trocadilho involuntário), quando estamos a poucos meses da eleição. O ato poderia servir apenas para justificar a ideia de adiamento ou cancelamento do pleito. Creio que as eleições agora são mais necessárias do que nunca, como a melhor possibilidade de constituir um governo estável com o mínimo de credibilidade, inclusive para colocar a disputa política em patamares mais sólidos. Na minha opinião, o único modo de apoiar uma articulação para a saída de Temer seria uma espécie de acordo nacional entre as principais forças políticas, pactuado em vista da garantia das eleições. Talvez isso não seja possível agora, mas se a crise se agravar adiante esse caminho poderá ser a melhor saída. As forças de esquerda poderiam negociar seu apoio exigindo mudanças na Petrobrás, por exemplo, mas sem participar de um tal governo de transição. O argumento seria que o destino da Petrobrás deve ser decidido pelo povo nas urnas e até lá fica paralisada a atual política de desmonte. Se a situação política e econômica se agravar muito, quem sabe poderia ser também negociada a participação de Lula nas eleições? A ver."
Do professor e historiador Rodrigo Patto Sá Motta, citado por Airton de Farias (Facebook) 

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Nem o belo logradouro escapa. Triste fim de uma gestão lastimável!