quarta-feira, 23 de novembro de 2022

ERASMO, POR NIRTON VENÂNCIO

"COM A FORÇA DO SEU CANTO

'...descobrir onde o mal nasce e destruir sua semente...'

Os versos de 'Cordilheira', de Paulo César Pinheiro, canção lamentavelmente cabível nestes tempos temerosos, foram musicados por Sueli Costa, por volta de 1977. A intenção era passar para Erasmo Carlos gravar; cantor e compositor que sempre esteve além das inocentes composições, das jovens tardes de domingo, com discos primorosos, onde faz incursões na black-music, no soul, no samba-rock. Erasmo nunca quis ficar para sempre sentado à beira do caminho. Com sua fama de 'mau', queria mais era arrombar a festa e descolar o necessário da parceria Carlos, com o dito 'rei' da juventude.

Louvou as mulheres e as mulheres: de sua Narinha à Roberta Close, o doce grandalhão Erasmo achava um absurdo, quando as chamavam de sexo frágil. Com a alma atarantada, o cantor atravessou umas barras pesadas, com o suicídio da ex-mulher, a morte da mãe e do filho em acidente de moto. Erasmo se manteve autêntico, com boas letras, boas melodias, e sobreviveu ao natural apagão do iê-iê-iê, com bons discos nas décadas de 70 a 90, com um e outro não tão inspirados. 'Carlos, Erasmo', de 1971, é um álbum essencial, assim como 'Banda dos Contentes', seis anos depois. São mais de 30 discos desde 1965, quando lançou o aparentemente ingênuo 'A pescaria', onde tem a famosa 'Festa de Arromba' e algumas versões de rock cinquentista. É desse LP a faixa 'Minha Fama de Mau', título também da autobiografia lançada em 2009, que Erasmo preferia dizer que é um livro memórias em que evoca histórias divertidas ao longo de sua carreira musical de 50 anos. Mesmo que o Tremendão, com sua cabeça de homem e coração de menino, tente não ir fundo nos relatos, sempre tem algo novo, para se conhecer de sua trajetória, o seu olhar, o seu ponto de vista sobre pessoas e fatos.

E hoje, quando se comemora o Dia do Músico, Erasmo Carlos falece aos 81 anos. Ainda choramos Gal. E começamos a manhã de olhos marejados, com a partida de Pablo Milanés. 2022, o ano em que vivemos entre o perigo e a esperança, pisa devagar.

Toca Raul! Toca Belchior! Toca Gal, Toca Erasmo! Para sempre! Tornamo-nos eternos no coração de quem nos quer bem!"

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 Foto: Aurélio Alves/O Povo