"Aqui não vai juizo de valor (Carnaval na rua é espaço do sem juízo), mas seria interessante um estudo de alguém que trabalha com culturas de rua ou festas, sobre como as redes e o que chamo de 'likezação da vida' mudaram o próprio imaginário do Carnaval de rua. Fontes iconográficas, musicais, literatura, imprensa e relatos orais, indicam que havia no Carnaval de rua um imaginário do velamento, trazido pela máscara, do anonimato na multidão, da esperança, do 'não me achem', da fantasia, como esconderijo. O ser se disfarça para Ser. Em alguma medida, o Carnaval de rua hoje caminha, no sentido oposto. O instantâneo da rede, a produção disseminada de conteúdos urgentes, a 'likezação', sugerem o Carnaval do 'me encontrem', 'vejam como me fantasiei', 'saibam onde estou', 'curtam a minha fantasia'. O Carnaval de rua, em alguma medida, deixa de ser para muita gente a festa da máscara, da diluição do indivíduo, na coletividade, do 'morri até a Quarta de Cinzas', para ser festa de desvelamento, exposição da identidade e individualização de um rito coletivo. Para concluir. Não há aqui juízo de valor, mas pistas para investigar como as dinâmicas dos tempos, em que a prática da rua é filtrada pelas conexões permanentes em rede, alteram (e possívelmente são alteradas por eles) os ritos coletivos e dinâmicos (que por isso são vivos) do Carnaval."
Luiz Antônio Simas, pesquisador e escritor, RJ
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