21 de jul. de 2023

MEMÓRIAS, COM ALEXANDRE NETO

"PEDRA POR PEDRA

Caminho de se caminhar.
Entre a fé e a tradição.
Vou-me pro Rabo da Gata.
Encontrarei naquele estreito as veias das lembranças.
Estrada para o coração.
Sei que não encontrarei o passado; ele passa.
Seu Zé Leite, na calçada, Dona Filozina, na janela; o Vilar, no balcão, o Seu Jaime, em seu banco; o cheiro de pão, vindo do Quico.
As pedras caminham inertes pelo caminho, passam reluzentes, ao sol do meio dia.
Fecho os olhos; ainda ouvirei os meninos em carreira, a gritar; o grito da infância, a brincar.
A bodega do Machadinho, sortida até a porta, o chafariz na frente da velha casa do Seu Totonho Aguiar; por favor, meu pensamento, não se encaminhe para a Rua dos Boeiros; lá poderão minhas lembranças ficarem presas, na antiga Cadeia.
É íngrime o caminhar; devo soltar o freio do carrinho de rolimã, até além barragem? A aventura do pensar no leva a sonhar.
As pedras ficam assentadas e unidas; os pés descalços me despendem do tempo, e me unem ao passado; quão vasto é este nexo temporal; tão triste é a ausência.
Lembranças são ilhotas submersas pelo rio. A correnteza (o tempo) a vê, mas vai deixando pra trás; não há como retroceder, só lembrar!"

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