25 de ago. de 2024

IDEIAS... SEM FOGO

"INCÊNDIOS INFERNAIS

Minha terra materna - Santa Rosa de Viterbo, no interior de SP - sempre foi fonte de vida. Ela estava na bica do quintal da minha avó, nos poços onde a gente mergulhava, nos campos sem fim que percorríamos para nos bannharmos, felizes como lambaris, em lagoas e cachoeiras. A querência antiga era como água - não essa das enchentes que tudo afogam, mas as cristalinas, que tiram a sede e o calor. Fragmento de paraíso no sentir da meninada, catando mangas, goiabas, pitangas e amoras no pé. Hoje, meu torrão natal materno está torrando nos incêndios que tudo devastam, matando bichos, árvores e matas. Destruindo currais e casas, embrasando quintais, reduzindo a cinzas lugares de amáveis memórias. Centelha do inferno para os adultos, que sentem na pele e nos pulmões os extremos climáticos, o aquecimento global, o novo 'normal', tão perigoso e anormal. Aprendem na dor? O doce da cana de açúcar, plantada até o limite, amarga a existência dos que têm a vista embaçada pela fumaça e precisam deixar tudo para trás para não sufocar. A monocultura da ganância asfixia! Os danos materiais são imensos, mas pequenos se comparados com a perda total que é a incineração dos nossos sonhos, da esperança em tempos mais amenos, onde o ser humano priorizará o empenho no cuidado com a Casa Comum. Que Deus perdoe a ambição estreita de muitos. E não nos desampare, apesar da insensatez de alguns."
Chico Alencar, escritor e professor de História; mestre em Educação e deputado federal, pelo PSOL, RJ

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A VOZ (INCÔMODA) DAS RUAS