26 de mai. de 2012

PARTE II

   (...)
   Parece ser mesmo doloroso, para os homens de boa vontade, e para os que lutam pela ética e a dignidade, assistir a ascensão de pessoas despreparadas e gananciosas para a representação parlamentar, e para os postos de comando da máquina do Estado.
   A política não constitui um fim, e o exercício da política, como sabemos, é uma vocação. Não é um patrimônio que se transmite por herança para os apaniguados do poder. A política é uma missão e exige de quem a ela se entrega um compromisso integral e efetivo para com as exigências da vida coletiva.
   No Brasil, infelizmente, a maioria dos políticos ainda não despertou para a grave questão do ambiente e o povo ainda não se sente motivado para os desafios da educação ambiental, o que é lamentável, e a consequência de tudo será a transmissão, para as gerações futuras, dessa conduta irresponsável.
   Essa perversão em que a hegemonia da política foi transformada, é a causa da violência social e da violência simbólica que nos cercam; é a causa da proliferação das drogas e das deformações que atacam as novas gerações, e entorpecem a mente dos que gravitam ao redor da máquina do poder.
   Parece mesmo que existe uma desordem no cosmos, causada pela perversão em que se transformou a política, pois a sinfonia planetária, que há séculos encantava a audiência humana, hoje se encontra ameaçada. Empresários inescrupulosos e políticos de visão mesquinha têm feito da ganância e da especulação instrumentos de violação da paz e do equilíbrio da vida em sociedade.
   O meio ambiente vem perdendo a sua qualidade. Agredido pela insensatez e a irresponsabilidade de muitos, agoniza qual um animal sangrado, e pede clemência para a tragédia da degradação ambiental e cosmológica.
   Depois que o homem decretou a morte de Deus e do sagrado, parece mesmo que tudo se tornou possível, cumprindo-se assim a profecia do grande romancista russo Fiódor Dostoiévski.
   A degradação ambiental, que hoje se espalha pelo mundo, tem recebido respostas muito convincentes da própria natureza, que aqui e ali vai se defendendo como pode, através de vulcões e terremotos, degelo das calotas polares, tsunamis marinhos e aquecimento de todas as regiões do planeta.
   O ser humano, contudo, não recua e a sociedade de consumo vai achando normal a circunstância de conviver com o lixo e com as embalagens nunca recicláveis das mercadoras que consome, rejeitando o ciclo natural do ambiente à sua volta e substituindo-o pelo consumo de mercadorias e serviços provenientes da indústria do tóxico.
   O homem que consome, de forma obsessiva, o ópio do mercado, e que sonha com o desejo do lucro, e que apoia, a seu turno, a poluição da natureza, parece mesmo que decidiu morrer abraçado com a sua imperfeição e com a sua teimosia de viés egoísta. Parece que decidiu sufocar a natureza, almejando assim o seu poder absoluto sobre o cosmos.
    É possível que a voz dos ambientalistas, e daqueles que defendem a natureza, continue clamando no deserto, mas aceitar as coisas de forma diferente, e não reagir contra o agravamento da crise ambiental, me parece o jeito mesquinho de estar no mundo e de aceitar a sua total degradação.
   Assim sendo, urge que as pessoas de boa vontade continuem resistindo ao avanço do mal e ao poder de degradação do universo, resultado da teimosia dos que não acreditam no amor e na compreensão, que maltratam a sensibilidade e tudo corrompem em nome dos bens materiais e dos interesses políticos inconfessos.
   Para além de tudo, no entanto, está a esperança, a dignidade dos que sonham com a vida, que replantam a semente do bem e a partilha da Paz e da Justiça, porque os frutos perenes do amor, a defesa da ética e o denodo dos que lutam pelas formas de afirmação do bem e da verdade são as nossas crenças e os nossos valores de maior valia."


  Dimas Macedo
  Mestre em Direito e Professor da UFC


   Fortaleza, inverno de 2012.



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