"A política, que é a latitude máxima da ação humana, em
busca de um fim social, e de uma práxis civil e emancipadora, corre em
todas as sociedades qual rastilho de pólvora. Não há como deter a sua
força, a sua energia dadivosa, o seu poder absoluto de envolvimento e de
transformação.
Não podemos pensar em qualquer forma de sociedade
sem que nela não esteja presente o exercício da política. A política é o
que é, existe porque tem que existir. É a espinha dorsal e a coluna
vertebral do Estado, do município, do poder político de uma forma geral.
Claro que a política não se submete aos limites da ética, porque a
conquista do poder e a sua manutenção constituem, com certeza, um campo
de guerra e não tem como ser diferente. Mas é claro que ela pode ser
limitada pelas regras do Direito e pelas aspirações de Segurança que
rondam o habitat da vida social.
Em face das conquistas da técnica
e da clarificação das consciências, penso que, nos dias de hoje, a
política poderia ser um pouco diferente. Deveria estar prioritariamente
voltada para o homem, para as suas necessidades e para a superação das
misérias sociais, que desafiam a paz e a busca dos Direitos Humanos.
A política, infelizmente, virou uma grande equação capitalista:
transformou-se em patrimônio material de uns e em forma de extorsão com
que outros se mantêm no poder, roubando os cofres da Administração,
assaltando a partilha do orçamento, transformando tudo em uma mesa de
jogo da corrupção e do desvio de recursos.
Após os
avanços da globalização econômica, especialmente a partir da década de
1990, o capitalismo e os seus valores de ordem financeira foram
assaltando, gradativamente, a máquina do Estado.
O
mercado substituiu a política e os intelectuais foram expulsos do espaço
público, porque a equação capitalista não precisa de ideias, mas de
pessoas dóceis à sua sedução material.
O capitalismo,
como sabemos, abomina qualquer discussão de ideias que não seja em
proveito da sua utilidade, e que não seja a favor dos monopólios de
todos os setores da vida; e a ideologia de ordem econômica e monetária
passou a ser, ao que parece, a religião oficial do planeta.
A cultura, a arte e a educação, que são bases primordiais do
humanismo, vêm sendo ultrapassadas, de último, pelos valores da
tecnologia; a preparação técnica das pessoas assumiu o lugar da sua
formação, do seu aprendizado sistemático e da sua capacidade de
interação com os seus semelhantes; e a defesa da Ética e dos Direitos
Humanos igualmente vem perdendo o seu lugar nessa nova forma de
sociedade, calculadamente fria e esquisita.
Grande parte
das pessoas, hoje, sucumbiu à sedução do consumo, e trocou sua alma
pela exibição do seu ego. Muitos não estão nos espaços midiáticos da web
porque fizeram alguma coisa de proveito no mundo, mas porque desejam
promover as suas fantasias.
Assusta observar, por outro
lado, que o homem perdeu a sua condição de reagir, de se indignar, de
denunciar os desmandos da classe política, e de ocupar as ruas e as
praças para reivindicar os seus direitos.
Os que se
julgam acima do bem e da verdade, decretaram a morte dos princípios,
como se fosse possível convencer os semelhantes com o barulho de suas
teses enfadonhas.
A completa conivência de muitos chefes
de Estado, e assim também do último governo do Brasil, para com a
mentira e a falsificação da verdade, e para com aqueles que já estão
cansados de mandar, tais os exemplos de Fernando Color, Renan Calheiros e
José Sarney, são situações que estão, por outro lado, a desafiar a
paciência das pessoas.
No caso específico do Brasil, a
busca da justiça social e o resgate da política enquanto vocação parece
que não são, decididamente, valores que agradam aos integrantes da
classe dirigente.
E o povo, sempre alimentado de muitas
ilusões, se acostumou demais com a mentira e com as esmolas que lhe são
destinadas pelas autoridades que estão de plantão, e não desconfia
sequer das intenções dos que estão no centro do poder. (...)
(Continua)
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