quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

ACORDO ORTOGRÁFICO - I

 
  O autor do artigo

 "Athmosphera, typographia, chlorophylla eram as formas como se grafavam as palavras, fundamentando-se em provável raiz latina ou grega. Tanto em Portugal, como no Brasil, foram veementes as críticas e contínuas as manifestações do usuário da língua, visando à adoção de grafia mais fácil, que não se regesse por critérios etimológicos por vezes fantasiosos. Pretendia-se a adoção de escrita mais simples, próxima da maneira de falar. Mudanças no sistema ortográfico já se tornavam assunto polêmico, objeto de calorosas discussões, pois mexiam com o cotidiano das pessoas. Alexandre Fontes, autor de livro sobre a questão ortográfica, afligia-se profundamente com as novidades a serem introduzidas pela Reforma de 1911 e não se conformava com a obrigatoriedade de grafar fase em lugar de phase. 'Não nos parece uma palavra e sim, um esqueleto'.
   As tentativas para um acordo ortográfico da língua portuguesa duram mais de cem anos e agora, no Brasil, a vigência do novo sistema foi postergada para 2016. O processo da padronização arrasta-se desde o começo do século XX, iniciado após a proclamação da república portuguesa, quando, à revelia, foi implantada a primeira grande reforma. Desde essa época, os dois países praticamente permaneceram com sistemas ortográficos diferentes, embora oficialmente por alguns anos se adotasse um modelo comum. Não se pretende evidentemente a unificação da língua, mas somente a padronização de sua escrita. Vamos continuar a falar como sempre se falou, pois é impossível uniformizar as riquezas fonéticas em uso no dia a dia. Assim, pronúncias diferentes, como no vocábulo titia, no Nordeste, sempre haverá e serão respeitadas. Não é isso que está em jogo. As variações irão continuar de país para país, de um grupo social para outro grupo social, de uma situação de comunicação para outra, até mesmo entre faixas etárias. Respeitadas as diferenças e conservadas as pronúncias típicas de cada região, bem como as gírias e as expressões coloquiais peculiares, busca-se unicamente a unificação do sistema ortográfico.
  Mesmo assim, por mais que se padronize a escrita e se simplifique a grafia dos vocábulos, sempre haverá discrepância entre o que se escreve e o que se pronuncia. O som nasalado de muito ilustra bem essa diferença entre grafia e fala.
  A questão ortográfica constitui-se um verdadeiro 'quebra de braço' entre Brasil e Portugal. Sem dúvida, os portugueses já não se arvoram donos da língua, como revelou o primeiro documento do atual acordo, em que se exigia dos demais países lusofônicos o depósito dos instrumentos de ratificação junto ao Governo da República Portuguesa. Os projetos por uma padronização da escrita provocaram acirradas polêmicas, tema de frequentes manifestos de escritores, intelectuais, políticos e de professores. Por que ainda se verifica tanta resistência, já que são inúmeras e evidentes as vantagens para todos os países da lusofonia? (...)."

  (Myrson Lima)

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VERGONHA NA CARA... DOS OUTROS