3 de mar. de 2013

A DESILUSÃO DO ZÉ!

  "Antes do sol nascer Zé Bedeu já olhava pra serra da Meruoca, pra saber se ia chover naquele dia... Como já era de se esperar, o sol surgia e nada de nuvens carregadas. Tirava o chapéu de palha da cabeça, olhava para o céu e exclamava: Ô, meu Deus! Só você tem o poder divino... Para ti tudo é possível... Até ressuscitar o teu filho do leito da morte! Por isso te peço: manda chuva para alegrar o coração deste penadubense sofrido de tanto esperar. Somente de ti espero alguma coisa... Os daqui só ficam nas promessas eleitorais.  Após a prece, Zé sentava-se à mesa para tomar o costumeiro café da manhã. Após o café, deitava-se na rede do alpendre da casa e continuava a navegar em seu mundo imaginário. Dona Zefa, já estava findando os afazeres matinais. E ao iniciar a última tarefa – varrer o alpendre - percebia a tristeza do marido... - Zé, levanta desta fianga e vai fazer alguma coisa, homem de Deus! - dizia. Ele retrucava: - Fazer o que, mulher? A chuva não vem e tudo depende dela! - Então vai ligar para o Pedro, para que ele abra a torneira dele e assim a água tenha força para chegar até a nossa casa! E continuando, reclamou: - Não sei que obra foi essa, que a água não chega para todos! Zé, por sua vez explicava: - Mulher, isso é coisa de obra pública! Tá, tá... Já sei da ladainha... Então vai pescar, enquanto a água do açude não seca e os peixes não morrem! Resignado, Zé levantava-se da fianga e saia em busca das iscas. Cazuza, vendo Zé embaixo da mangueira, cavando, satirizava: - Oxe, Zé, está procurando botija?! - Não curioso, estou procurando é minhoca mesmo pra pescar! Quer ir também? - Tá, vamos! Já sentado na beira do açude, sobre o sol escaldante (e sem pegar peixe), Cazuza rompeu o silêncio: - Zé tu viu na televisão ontem à noite para onde está indo o nosso dinheiro? - Vi! É... enquanto os ratos se banqueteiam, nós padecemos neste fim de mundo! Vamos continuar a pescaria, já que o que nos resta é somente isso... Lembra do que eu te disse no período da eleição? 'Dinheiro na mão e nós aqui no chão, procurando o pão...'"  



   Carlos Teles

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AV. BEIRA MAR NO ABANDONO

Nem o belo logradouro escapa. Triste fim de uma gestão lastimável!