"A Academia Brasileira de Letras (ABL) – desde muito tempo – deixou de
ser uma instituição relevante. Há anos, seu protagonismo se restringe a
intervir nas cotações do mercado nacional de vaidades, afagando
políticos e empresários. Vigora no casarão da Avenida Presidente Wilson
uma economia simbólica estéril e anacrônica, que deixa para a história
não mais que uma embolorada galeria de encômios casuístas. A ABL é a Casa da Burocracia do elogio fácil; um porfioso Baile da Ilha Fiscal da 'inteligência' nacional.
Na semana passada, o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi eleito 'imortal'. Cadeira
36, cujo patrono é Afonso Celso – aquele do 'Por que me ufano do meu País'. FHC, 'o superlativo de PhD', como definiu Millôr Fernandes. O
intelectual que, chegando ao poder, pediu aos brasileiros que
esquecessem o que havia escrito. O sociólogo outrora elevado à condição
de 'príncipe da sociologia', mas que carrega em seu currículo graves
acusações de plágio, sobretudo na formulação da sua 'Teoria da
Dependência', cujas ideias centrais teriam sido despudoradamente
copiadas de autores como Ruy Mauro Marini. Sem falar em sua 'Mein Kampf tropical', a biografia 'A soma e o resto', mesmo título de um livro do
marxista francês Henri Lefebvre.
Não creio que cada País tenha os 'imortais' que mereça. A Academia
Brasileira de Letras, há muito, não vive no Brasil real, não dialoga com
sua cultura, com seu povo, com os impasses de seu tempo. Prefere
convidar 'umbigos delirantes' para o chá dos fardões. 'O que me
impressiona é que esse homem, que escreve mal e fala pessimamente, as
frases se contradizem entre si, é considerado o maior sociólogo
brasileiro', escreve Millôr Fernandes no genial 'O primado da ignorância',
em que demole a escrita do ex-presidente ao analisar seu principal
livro, Dependência e desenvolvimento na América Latina.
A história tratou de
condenar o FHC presidente ao ostracismo – por seus malfeitos ao País. O
FHC sociólogo, o próprio FHC presidente tratara de enterrar. Fico em
dúvida sobre qual FHC a ABL tenta ressuscitar agora."
Felipe Araújo, editor-chefe do Núcleo de Cultura e Entretenimento do O Povo
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