domingo, 20 de outubro de 2013

CIDADE DA LEVEZA - I

Das Antigas  

  "O medo elegerá o próximo governador da cidade. Infelizmente. Será o álibi do palavrório messiânico de quem, por projeto particular de poder, tentará tornar o que está ruim ainda mais desgraçado. E é fato que, por real ou irreal, as ruas perderam a leveza, a alma do flanar, do eguar, do sair por aí. Os encontros passaram a ser recheados por narrativas do amedronto. E os corpos entraram na dramaturgia do susto, do sobressalto. Ora olhamos para os lados, ora aceleramos na esquina, ora revelamos estratégias de como escapar. E a graça, (do gracioso, do risível, do ridículo), temos abandonado, estamos nos ausentando, nos enfurnando numa tristeza clandestina. Prometendo ir embora para lugares menos piores. Não toco nos pífanos dessa banda. O risco se arrasta aí: o desencanto pela cidade e a impotência no reagir. Doce na boca de quem fará do pavor o discurso para governar o castelo a partir da Aldeota-Cocó-Meireles. Já foi assim, num cenário menos azedo e que supurou. O Ronda do Quarteirão, polícia do marketing e vazia de fundamentos, foi escada para eleição dos Ferreira Gomes. E olhos embaçados, morrendo de medo, os acuados votaram pela promessa enganosa de que a cidade voltaria a ser segura. De que as calçadas poderiam ser experimentadas a qualquer hora do dia, por causa da presença dos guardas da boa vizinhança e um cafezinho. Puro blefe e tão óbvio. Polícia, Secretaria da Segurança, é apenas ponta. O cachorro pastor alemão que soltamos à noite, para que os larápios não escalem os caibros nem forcem os basculantes. Antes deles, da cavalaria salvadora em cada esquina, o ajuste consequente das relações na cidade seria a primazia.
  Governo coletivo, governador sem projeto particular de reinado, é aquele que traça possibilidades para se multipliquem riquezas sustentáveis e afetos na cidade de todos. Principalmente para os que precisam ser incluídos onde rebentaram. Que precisam existir.

  Se polícia, se Secretaria da Segurança, fosse o fundamento para consolidação da paz pública o que explicaria a existência de comunidades dominadas por traficantes de drogas e armas? Aos 46 anos idade, testemunhei a indicação de pelo menos dez secretários da Segurança. Nenhum deles sabe explicar por qual motivo, por exemplo, a chave da comunidade do Pôr do Sol é dos bandidos e não do prefeito, governador e, efetivamente, do povo de bem que mora lá! (...)."

 (Demitri Túlio, do O Povo)

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