"É
paradoxal que, no mesmo Estado, no sistema de Justiça, o órgão julgador
e o órgão acusador sejam estruturados e remunerados dignamente, ao
passo que o órgão defensor padece de uma crônica indiferença
remuneratória e estrutural.
É estranho que somente ao órgão vocacionado a defender os direitos dos cidadãos – especialmente os mais desvalidos, parcela francamente majoritária da população – seja negada a igualdade de tratamento, na contramão do que já dispõe a Constituição Federal.
Talvez a lamentável discriminação somente revele um trágico viés que permeia – ostensiva ou subliminarmente – a
atuação dos nossos representantes políticos ao longo de toda a nossa
história. Uma postura que teima em encarar os cidadãos não como a fonte
primária de todo o poder, mas como mera massa de manobra cujo voto seria
um mal-necessário nas ambições elitistas pela manutenção do poder.
Talvez
o duradouro tratamento discriminatório tenha deixado a todos meio
anestesiados e algo descrentes na efetivação dos próprios direitos, a
ponto de gerar um quadro que beira a letargia social. Mas é preciso
urgentemente despertar, identificar as raízes do problema, educar o povo
de seus direitos, conclamá-lo a lutar pela retomada do poder que
originariamente lhe pertence.
Eis
o cenário atual da Defensoria Pública, historicamente renegada, mas
paulatinamente fortalecida e afirmando-se como instrumento de
transformação social e de libertação da hipossuficiência, aliando-se
à heroica resistência dos movimentos populares, por intermédio da
educação em direitos, da promoção dos direitos humanos e da defesa dos
cidadãos na luta por um mundo mais justo."
Francisco Eliton A Meneses
Defensor Público
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