“'Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!'
Era isso que eu ia cantando quando avancei contra a PM do sr. Cid Gomes.
Por que avancei?
Em
primeiro lugar, porque a polícia não se manteve nas barreiras e avançou
para acabar com a manifestação. Uma manifestação pacífica, de cara
limpa, em que tremulavam bandeiras dos movimentos sociais e até de
partidos políticos.
Não é verdade que os manifestantes provocaram o enfrentamento. A PM do Ceará mentiu, e a Rede Globo também.
A maior manipulação da Globo foi a de não seguir a linha do tempo, e
apresentar imagens do final do conflito, sem nada dizer das horas de
bombardeio que sofremos.
Tenho 68 anos e limitações de
locomoção, e estava sentado quando eu e minha esposa, também com 68
anos, fomos atingidos por artefatos de gás lacrimogênio. Estávamos longe
da barreira, com vários trabalhadores, professores universitários,
profissionais da saúde, e até militantes das pastorais da Igreja
Católica.
Minha esposa foi levada por jovens
manifestantes para longe, a fim de ser tratada dos efeitos do gás. Eu
fiquei, inclusive porque peso mais de 100 quilos. Estava aplicando uma
esponjinha molhada de vinagre para poder respirar, mas vi uma jovem tão
apavorada que passei minha esponja para ela.
Levantei-me
indignado e avancei contra os escudos da barreira, de cara limpa, com a
camisa contra a PEC 37. Os PMs ficaram confusos, mas logo avançou um
oficial superprotegido por escudos e asseclas que mal podia falar.
Foi
logo dizendo que eu não podia fazer aquilo, mas respondi que estava no
meu direito de manifestar-me sem armas. Ele alegou que eu podia ser
atingido por pedras, mas nenhuma foi arremessada contra mim. As poucas
que havia no chão eram pequenas, e nenhum risco causavam a seus escudos e
coletes. Disse-lhe que dispensava sua proteção, pois quem tinha me
agredido era ele, e não pedras. Ele voltou para sua linha de escudos.
Minha esposa foi levada por jovens
manifestantes para longe, a fim de ser tratada dos efeitos do gás. Eu
fiquei, inclusive porque peso mais de 100 quilos. Estava aplicando uma
esponjinha molhada de vinagre para poder respirar, mas vi uma jovem tão
apavorada que passei minha esponja para ela. (...)."
Sílvio Mota
Magistrado Federal
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