20 de ago. de 2011

Quebrar os ovos e não fazer a omelete?

  "Vou tocar num tema difícil e deixa claro que o faço em meu nome pessoal, sem que tenha conversado ou sequer avisado o titular deste blog. Portanto, os que quiserem condenar o que digo, que condenem a mim, apenas.

  E faço isso porque o convívio de mais de duas décadas com Leonel Brizola e com a administração pública me fez ver quanto é difícil ser honesto e como é quase impossível parecer honesto, mesmo que você o seja. E, claro, como é simples ser desonesto, se você vê na vida pública o caminho da fartura que, positivamente, nela não existe para quem a exerce com princípios e, sobretudo, com causas.
  A saída do PR da base governista não é um desastre irreparável, mas é muito ruim. Não para o Governo Dilma, apenas, mas para o país. Uma crise com o PMDB, sim é que seria um desastre irreparável. Menos mal que a indicação do deputado Mendes Ribeiro – a quem já tive oportunidade de me
referir aqui – para ocupar o Ministério da Agricultura é sólida e muito bem vinda.
  Mas algumas verdades devem ser ditas.


  Não temos um Congresso de esquerda. Quando muito, poderíamos, com muito boa vontade, dizer que temos um terço do Congresso ideologicamente de esquerda. É verdade que, da mesma forma, não temos um Congresso ideologicamente aferrado – embora seja mais fácil ser simpático ao que toda a mídia diz – às posições neoliberais, aliás não temos nem mesmo um terço dele assim.
  Mas temos um Congresso patrimonialista, material e politicamente falando. Que quer 'espaços' políticos que eternizem o grande patrimônio dos deputados e senadores: os seus mandatos.

  Isso não quer dizer – e não pode querer dizer – pactuar com a corrupção que, eventualmente, possa ocorrer. Mas a ponte, a obra, o asfalto, a estrada vicinal, o atendimento a pleitos locais são moeda política real e histórica. Desde que sejam ações necessárias, benéficas à população e realizadas sem desvios de recursos, não trazem mal ao país, nem à população. Ao contrário, até refletem a capacidade de pressão política legítima que seus representantes podem e devem fazer, num sistema político em que 'as bases' são formadas assim.
   É curioso que a direita, até, cobre aos parlamentares que se dediquem mais a estas questões locais, tanto que prega o voto distrital.
  Outra coisa bem diferente é que estes “espaços” se prestem à corrupção e ao enriquecimento pessoal. Evitar que isso aconteça é papel das instituições republicanas de controle, que sempre tiveram, seja no Governo Lula, seja no atual, ampla liberdade de atuação e respaldo em suas ações, dentro da lei, e com independência.
   Um Presidente da República não é um “xerife”. É um condutor, um agregador, um líder que encaminha vontades diferentes dentro de um caminho comum.

  Que o Governo precisa de maioria, e que essa maioria não virá automaticamente é algo que ficou bem claro na votação do Código Florestal.

  Não será, também, a mídia que a formará, a não ser para destruir a liderança progressista que nos custou décadas a formar. Muito menos virá da oposição o apoio sincero à ação ética e moralizadora.

   É preciso ser firme, mas também extremamente cuidadoso. A administração pública deve funcionar na sua plenitude.

  A Presidenta tem toda a razão em dizer que onde há corrupção, há ineficiência.

  Ao exigir-se eficiência, compromisso, efetividade das ações, cumprimento de prazos, prática de valores módicos e austeridade, então, é que se estará evitando e reduzindo a corrupção.


  Mas cruzadas moralistas não são moralizantes. São, sim, paralisantes.


  E não há maior crime, não há mesmo, do que permitir que se paralise o grande processo de transformação do Brasil que está em curso.

Os conselheiros da Presidenta deveriam perceber que colocaram, como aprendizes de feiticeiros, um caldeirão em ebulição. Com fatos ou sem fatos que o justifiquem, tudo agora é suspeito.

   Por sorte a Presidenta não é aprendiz. Ao contrário, aprendeu muito, ela própria, ajudando a tirar o  Governo de Lula desta armadilha.

   E saberá, muito bem, tirar a si própria do caminho em que tentam leva-la, restabelecer a solidez da base aliada e usar a maioria de que dispõe para fazer as transformações que, estas sim, definirão a sorte de seu Governo.

  Porque o sucesso do marketing é fugaz, e o dos atos, perene.

  Ter desejos de justiça e progresso é grandeza. Fazer justiça e progresso, mantendo o olhar nos horizontes, em meio às vicissitudes da política é enormidade de ser estadista."

  (Brizola Netto)
  (Artigo enviado por Eliton Meneses) 

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